sábado, 28 de novembro de 2015






                                                             DEU MERDA!



                   Isto é uma prisão. Uma bela prisão, cercada de paisagens magníficas,  belos ideais de democracia, igualdade, equilíbrio ecológico e social, tudo enfeitado com muitas, muitas palavras bonitas, belos discursos "profundos, nascidos do fundo coração, carregados de emoção, de paixão", cheios de vontade de mudar o mundo!
                   Mas... na prática a teoria é outra!
                   Na realidade, temos que estar à disposição deles, durante vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana! É o que consta do livro onde estão nossas obrigações e que eles dizem que aceitamos, quando nos matriculamos.
                   Temos que trabalhar muito, de graça, economizar água, luz, sabão, papel higiênico, suportar ratos, sapos e baratas em todos os lugares, inclusive na cozinha, assistir documentários chatíssimos sobre a fome na África, a superpopulação no mundo, a matança de animais, o aquecimento global, enquanto a população daqui carece de informação sobre  como combater mosquitos, ou manter as ruas e as praias mínimamente limpas... temos de fazer tarefas intermináveis pelo método "pedagógico" deles, o DMM... e muitas outras coisas absurdas que eu ainda vou contar.
                    Mas o pior é o racionamento de comida! Pouca carne, muito ruim, cheia de pimenta, muito grão, batata, pão, macarrão, tudo com pimenta e pouca verdura, pouca fruta, ou melhor, só tem as frutas e verduras daqui, isso significa que comemos goiaba, geléia de goiaba, suco de goiaba... antes foi carambola, na salada, na geleia, no suco... durante semanas. E verdura, só espinafre!  No começo todo mundo come, depois, só o pig e se alguem reclama, dizem: temos frutas e verduras, voces é que não comem!   Afe! Eles dão nó em pingo d'água.
                    E o mais perigoso, são as "schedules". A semana dividida em quadradinhos, com horários pra tudo. Todos os minutos ocupados. Se alguem tem alguma idéia nova, tem que compartilhar, porque vivemos numa comunidade, somos um time e temos que compartilhar tudo! Aí, quando alguem compartilha, a idéia é picada em pedacinhos e cada pedacinho fica colocado num quadradinho da "schedule".
                   Esse processo mata qualquer tesão por idéias novas. Uma vez, o professor da horta pediu voluntários que eventualmente acordem antes das sete, para trabalhar na horta até as sete horas. Eu me apresentei. Acordo sempre antes das sete. Não me custa ir para a horta nesse horário. Então, no dia seguinte choveu e eu não fui. Aí, me perguntaram por que não fui, já com um ar de cobrança, e eu tive de responder que, como voluntária, eu iria quando  quisesse, não tinha obrigação... No dia seguinte, havia um um novo quadradinho na "schedule", para esse horário e todos os "voluntários" que se apresentassem iriam adquirir uma nova obrigação. Esse sistema acaba com qualquer tesão por novas idéias.  Eu desisti. E o quadradinho ficou em branco até o mês passado, quando foi preenchido por alunos novos.

                                                                          ***

                   Tudo isso pra contar porque deu merda.
                   As colombianas, ontem, depois de terem trabalhado e cumprido todas as obrigações da "schedule", foram a uma festa na cidade e voltaram de madrugada. Acho que não avisaram ninguem. Da última vez, a Nadhia avisou onde ia e não deixaram. A Nadhia foi assim mesmo e no dia seguinte resolveu ir embora por conta própria. Então, as colombianas sabiam que não teriam autorização pra sair. Sairam escondido. Pois alguem denunciou e hoje antes do café da manhã, elas foram comunicadas de que teriam dois dias para terminar o projeto delas e ir embora.
                    Que merda! Estamos mesmo numa prisão!
       
                                                                         ***
                    O que será que eles querem de nós?
                    Por que manter todos os alunos aqui, sob controle?
                    Por que considerar todos os vincentianos maconheiros, traficantes e perigosos?
                    Afinal é isso que eles alegam quando dificultam nossas saídas. É lógico que não é com essas palavras. É com palavras politicamente corretas sobre a necessidade de evitar o envolvimento com certas pessoas e situações... sobre como proceder em caso de perigo... sobre a responsabilidade que a escola tem em relação aos estudantes... e coisas assim.
                   Mas essas palavras significam: não queremos que voces saiam daqui. Vamos tornar essas saídas muito difíceis.  E se voces saírem,  sem a nossa autorização, serão advertidos e se repetirem, serão punidos.
                    Estamos numa prisão. Por que?

                                                                       ***

                   Voce já pode dizer eu li na tela da
                                                                           Eulina                                                                  

                                                                 










                                     

quarta-feira, 25 de novembro de 2015





                                                       DE PERNA PRO AR


                    A comida é tão ruim, que eu perco a fome. Estou ficando anoréxica. Todo dia, eu deixo comida no prato. Já emagreci sete quilos e acho que perdi massa muscular. Eu já tinha pouca, nunca fui de fazer exercícios... então, um dia teve uma brincadeira de dança das cadeiras e eu senti algo dentro da batata da minha perna direita. Sentaram na minha cadeira, eu saí do jogo e fiquei sentindo algo esquisito na panturrilha, logo atrás do joelho. Não doeu propriamente, Foi só uma sensação esquisita.
                     Dia seguinte, ainda tinha essa sensação, mas foi desaparecendo no correr do dia. Não dei mais bola. Passou de vez.
                     Daí dois dias, fui fazer uma caminhada. Comecei a caminhar toda lépida, Fomos até o pomar e então eu senti. A coisa esquisita, que tinha começado atrás do joelho, correu pela panturrilha e parou perto do tornozelo. Desta vez, formigou, esquentou e doeu. Eu parei imediatamente de caminhar, fui para o meu quarto e olhei para a perna. Nada aparente. Tomei banho, passei um spray geladinho e deitei com a perna em cima do travesseiro. Parou de doer. Mas quando eu levantei, doeu de novo.
                     Isso foi há dez dias atrás. Desde então, tudo o que faço é com a perna pra cima. E não faço nada que precise andar. Fui ao médico, ele disse que é uma distensão muscular e me receitou uns comprimidos e repouso. Que merda!  A perna inchou e ficou dolorida. Agora já está passando, mas no começo doeu bem. Agora, só dói no finzinho do passo.
                    Tive voluntários que cobriram meus dias de cozinha, e não participei de nenhuma atividade, que exige esforço físico. Fiz geleia, fiz sabão, escrevi para o blog da RVA, e vagabundeei. Passei muito tempo deitada na rede olhando as nuvens e lembrando das minhas férias na fazenda, onde fazia a mesma coisa quase todos os dias.

                                       "O pensamento
                                         parece uma
                                         coisa a toa
                                         mas como é
                                         que a gente voa  
                                         quando começa a
                                         pensar..."

                       Passado, presente, futuro, tudo misturado na minha cabeça, criando histórias malucas!  Fui heroína, fui vilã, amei, odiei, fui amada e odiada, fui esposa e fui a outra... venci batalhas e fui derrotada, voei, voei muito, pelos mares e ilhas do Caribe, pelos prédios de São Paulo, pelo Cristo Redentor, pelos campos de Mato Grosso do Sul... e mais que tudo, sonhei, com um bom bife, mal passado, bem sangrento. Estou escrevendo agora, com  água na boca.
                     Ainda estou fazendo repouso. Já consigo andar bem melhor. Estou sarando, mas ainda tenho um medinho de não conseguir fazer nenhuma caminhada maior... eu me consolo quando vejo notícias sobre os jogadores de futebol que se estropiam muito e depois de um tempo, voltam a jogar.
                    Consultei minha sobrinha nutricionista ela disse que eu preciso de proteínas. Comprei sardinha, atum, leite em pó. Aqui só temos carne ruim, duas vezes por semana! E é tão ruim, que muitas vezes eu dou pro pig.
                    Estou enjoadíssima de repousar com a perna pra cima.

                                                                  ***

                    Os funerais aqui são uma festa. Já me deparei com dois, enquanto andava pela única estrada da ilha. Todos cantam e dançam atrás do carro fúnebre, como se fossem atrás de um trio elétrico. A diferença é que estão vestidos de preto, e a música é   lenta. Eles não se entristecem com a perda. Eles comemoram a entrada do amigo em outra vida. Seguem rituais africanos, pelo menos nos enterros. Eles são, na maioria, cristãos, anglicanos, luteranos, metodistas, alguns católicos mas não fazem sincretismo. Não tem Iemanjá/N. Senhora da Conceição, nem Ogum/São Jorge, nem Iansã/Sta. Bárbara, se tem, não é escancarado, como no Brasil.  Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Em New Orleans os enterros são assim, festivos, também com forte influência afro, mas sem sincretismo aparente.
                                                                  ***
                     Desde que o jordaniano reparou que as crianças não sorriam, eu comecei a prestar mais atenção. As crianças sorriem, quando nos vêem passando na pick up. Sorriem, e abanam a mão, fazem festa. Mas quando começamos a conversar com elas, ficam sérias. Custam a responder e a sorrir novamente. Parecem desconfiadas.
                     Passei a reparar mais nos adultos também. Ele são sorridentes entre eles. Conversam muito, riem muito, mas quando falam conosco, são reservados. Falam menos, sorriem menos, eu me lembro sempre do homem que disse que eles eram ciumentos e não sabiam do quê.

                                                                     ***

                    Como estou de perna pro ar, tenho tempo de sobra pra conversar com todos os que chegam perto da rede e acabo descobrindo que quase todos tem a impressão de que existe algo de muito errado, mas ninguem sabe identificar o que é.
                     Ficamos aqui, nesta bolha, enquanto acontecem atentados terroristas em Paris, enquanto a Vale do Rio Doce mata o Rio Doce, preocupados em ter uma boa desculpa pra sair daqui e tomar umas cervejas proibidas!
                     Todos reclamam da internet e desde que cheguei, ouço que estão providenciando uma conexão melhor, mas nada acontece. Parece que querem mesmo isolar a gente do mundo. Sempre inventam alguma coisa no fim de semana, pra gente não sair daqui. E quando saimos, sempre vai um professor junto, acho que pra garantir que ninguem vai beber nem se drogar.
                     Os vincentianos que trabalham aqui dizem que os diretores são racistas, acham que só tem bêbados e drogados neste país. E que os alunos da RVA podem ser "contaminados" se tiverem contato maior com os vincentianos.

                                                                    ***

                     Todas essas conversas me levam a uma conclusão provisória. Talvez muito simplista, talvez muito apressada, mas que, até agora, me parece óbvia: existe uma enorme diferença entre as cabeças de um país europeu, que nunca foi colonizado e de um país americano que foi colonizado.
                     É a diferença entre crescer e amadurecer livremente, ou crescer e amadurecer sendo obrigado a seguir idéias alheias.  Quem é obrigado a seguir idéias alheias, precisa primeiro escolher quais idéias alheias são adequadas para o seu crescimento e depois desenvolver suas próprias idéias. E isso leva tempo.
                     Os europeus, que tiveram seu bem estar assegurado às custas do trabalho escravo das colônias, agora tem a consciência pesada e querem "ajudar". Por outro lado, os países que foram explorados, às vezes acham que precisam ser indenizados, outras vezes querem que os europeus fiquem longe, e não se intrometam mais.
                     Não consigo evitar de pensar que muitos europeus, mesmo bem intencionados, acreditam que são melhores. Na verdade, existe um "gap" enorme entre países livres e países colonizados. Esse "gap" deve ser estudado. Antropólogos, psicólogos, assistentes sociais? Não sei, mas enquanto não for superado, e as relações forem encaradas como "ajuda aos pobres", as coisas vão continuar muito difíceis.
                     E eu  continuo me lembrando do homem que disse que os vincentianos tinham ciumes, mas não sabiam do quê.
                                                                        ***

                     Outro assunto muito discutido, enquanto estou de perna pra cima é o DMM. Não sei o que significa a sigla. Não encontrei ninguem que saiba. Mas é uma série de lições que consistem em vídeos, documentários, ou textos para serem lidos, seguidos de perguntas e tarefas tudo feito segundo o sistema que eles inventaram, o DMM.
                     Estudamos o pensamento dos filósofos gregos sobre o planeta Terra, a fome na África, a revolução industrial, o aquecimento global, estudamos até como tornar Marte habitável! O resultado é um "Samba do Crioulo Doido", que somos obrigados a deglutir e digerir, sob pena de não ganhar o "Certificado", que aliás ninguem sabe direito pra que serve. Isso ocupa um tempo enorme, que seria muito melhor aproveitado se tivéssemos algum trabalho a ser realizado com a população.
                    Afinal, pra que saber o que um filósofo grego pensava sobre o planeta, enquanto a população de St. Vincent está constantemente sendo atacada por mosquitos que transmitem dengue, malaria, chicungunya, etc.?
                    E por que não há, nesta escola, cursos regulares para vincentianos?
                    E por que a RVA não promove programas perenes de educação ambiental junto  escolas do país?
                    E por que programar cada hora do dia com atividades não deixando nenhum tempo livre
para pensar e propor novos projetos e programas?

                                                                     ***

                    Eles fazem coisa boas. Esta fazenda é um modelo de agricultura orgânica e sustentável. Recolhem  e utilizam  a água da chuva. Estão construindo um filtro para reutilizar as águas servidas. (esse é o projeto das colombianas). Tem planos de produzir  biogas. Tem uma plantação de bananas e outra de maracujá. Tudo isso foi criado e é mantido com o trabalho voluntário dos estudantes.
                    A fazenda é um modelo a ser seguido. Mas não há vincentianos aqui pra aprender tudo isso! Por que?
                 
                                                                      ***

                     Nadhia foi embora e eu sinto falta. Tenho que arranjar um voluntário pra fazer sabão comigo.
                    Aqui neste BBB continuam acontecendo e "desacontecendo" casais.
                    Fico com vontade de ter trinta anos menos, para me apaixonar, nesta ilha cheia de praias, coqueiros, sol, lua e estrelas... mas meus hormônios não colaboram mais.
                 
                    Voce já pode dizer eu li na tela da

                                                                             Eulina













domingo, 15 de novembro de 2015







                                                      MORE ABOUT KID'S DAY


                  Amigos, segue uma entrevista que fiz com os alunos do curso de dezoito meses. Esse curso tem seis meses preparatórios aqui, nos quais eles planejam ações que vão desenvolver no Ecuador ou em Belize. Eles passam seis meses lá, trabalhando com os pobres daqueles países e depois voltam para cá para mais seis meses.
                  Cumpridos os dezoito meses, eles tem um certificado de ativistas  (não sei muito bem do quê, mas vou descobrir) e podem trabalhar em qualquer atividade relacionada com ecologia, sustentabilidade e/ou combate à pobreza.
                               A matéria foi publicada no blog da RVA.

                                                                 ***
                                                             
              Kid’s day is Always a nice day!
              Everybody in RVA likes to work in kid’s day. Playing with children always reminds us about our own childhood and brings good memories for all.
               Probably this is one of the reasons why the event is part of the training for the students who go to Belize or Ecuador. There, they will have to plan other events similar to this.
               I had already written about kid’s day in another article published in this blog, recently.  So, at this time I will interview all the members of the Fighting with the Poor team, who were responsible of planning and organizing the last event.
               I asked to each one the same questions, and it was interesting to see that they have different points of view, and different answers.

1 – You know that you will have to plan events like this in Ecuador or Belize. What are your impressions about the way that the event happened?

Manal, from Jordan, said that it was fun, but we could have done more.  It was a little bit confusing.
Baha, from Jordan, even though it was disorganized, the children had fun. It should have being more prepared.
Lilly, from Norway, thinks that for the first event that they planned it was quite well. At last, they have gone to the community, and played with the children.
Nelson, from the USA, said that it was a totally new experience for him, and the children were very active demanding a lot of attention.
Mariana, from Mexico, think that it is a very good idea, a very good way of interacting with the community, but it was not put to a good use.
Walid, from Jordan, noticed that the children had much fun, but they didn’t smile. They didn’t want to learn the things that were being taught.

2 – And what do you think that could be done and was not?

Manal told that they should have prepared more educational activities.
Baha think that the games should be suitable for children of 8 to 10 years old.
Lilly felt that if they had asked before, the children had attended more.
Nelson also says that they could have prepared better.
Mariana says that we need more communication with the parents. We worked only as a babysitter, not in an educational work.
Walid noted that the children are very talented, and need more stimulus.

3 – Any recommendation for the next?

Manal says more educational activities.
Baha says be more prepared, because children are always a surprise.
Nelson says more activities with the hands.
Mariana says the kid’s day should be the bridge between us and the community.
Walid says the snacks should have been served before or after the activities.

              These were their different points of view.
              But talking to all of them, I could conclude that they are a little bit sad because it was not possible to do the short presentation with animals that they prepared.
              And they all have the same opinion about the need for further approximation of teachers and parents to find out which are the real necessities of children, in order to plan a good educational work that could be continued by them, or by other teams.
             And I conclude, by myself, that maybe working in the right way, the children will smile to us.
                                                  ***

                  Voce já pode dizer eu li na tela da
                                                                           Eulina

sexta-feira, 13 de novembro de 2015








                                                      PESSOAS & PAISES



                             Depois dos "reflections meetings", o saldo foi o seguinte: Nadhia foi embora. Não aguentou ser tratada como criança. As colombianas estão sob fogo cerrado e falam que quando acabarem o projeto delas, vão voltar para a Colombia. E eu, contando com o apoio de todos os estudantes, fui deixada em paz.  A minha equipe, que no início tinha dez pessoas, agora só tem quatro. E se as colombianas forem embora, eu fico só.
                             E eu estou  sendo bem paparicada, inclusive pela diretora e pelo professor vegano. Fui autorizada a fazer minhas lições por email, sem usar o sistema "on line". Então, sem  pressão,   consegui fazer meus vinte e cinco "homeworks", escrever em inglês para o blog da  RVA, fazer sabão, fazer geléia,  cuidar da minha área de limpeza, ajudar na horta e me dedicar ao meu passatempo predileto que é observar pessoas.
                             A oportunidade de conviver com pessoas de muitos países, executando tarefas em conjunto, é fantástica! É uma fonte inesgotável de curiosidades culturais.
                             Os vincentianos se cumprimentam com a mão direita fechada, em forma de soco. O soco é dirigido à mão direita do amigo cumprimentado e depois, coloca-se a mão ainda fechada em cima do coração. Os rastafaris são vegetarianos. No máximo, comem peixe, de vez em quando. Eles acham que o cabelo conserva força e energia, por isso não cortam.
                             Temos um alemão de 18 anos e um dinamarques de 20. Segundo as fofocas das mulheres, são os genros que toda mãe gostaria de ter! Me lembram meu neto! Eu gostaria de ter dois netos assim!
                             Os dois jordanianos são super legais, compridos, magrelos cabeludos, barbudos  e sempre de bom humor! Um deles estava jogando futebol outro dia e me lembrou o Sócrates. Corria com as pernas duras, todo desengonçado. Agora cortou o cabelo feito moicano, mas quando visto de frente, lembra o Ronaldo Fenômeno na copa de 2002. É o meu colega favorito. Esse grupo, tem ainda uma  doce jordaniana bem magrinha, um americano bem legal com cara de mexicano,  uma mexicana, sensível artista plastica e uma norueguesa bem bonita e super divertida. Eles estão no curso de dezoito meses. Vão passar seis meses em  Belize ou Ecuador, trabalhar em comunidades, e depois voltam para mais seis meses aqui.
                             As tres colombianas eram quatro. Uma descobriu que estava grávida na primeira semana e "se fue" de volta para Bogotá. As outras são muito jovens, muito falantes, muito dançantes, pensam só no projeto delas e nas melhores maneiras de fugir à noite para ir dançar nas festas. Simpáticas, alegres e cansativas. Esse é o meu grupo agora. as colombianas e eu. Estamos nos últimos dois meses.
                             Aqui faz tanto calor, que todo mundo toma banho. Mas os europeus... não sei o que acontece com eles. Às vezes é difícil sentar perto. Já, os vincentianos são sempre cheirosos. Até o rasta, com seu cabelão.
                             As duas brasileiras que estavam aqui foram embora. Rosi e Nadhia. Ambas vieram porque queriam aprender inglês. Aprenderam a falar,  porque não tinha jeito, mas não sabem escrever. E aprenderam um monte de outras coisas que não queriam. Rosi foi para São Francisco, trabalhar num hostal, em troca de hospedagem e matriculou-se numa escola de inglês. E Nadhia não aguentou a pressão. Arranjou um namorado e está num hotel, enquanto resolve pra onde vai. Eu fiquei sem ninguém pra conversar em português.
                             Mas não por muito tempo. Chegou uma brasileira pra trabalhar no escritório. Baiana, "mórena" e como toda baiana que se preze, extrovertida e falante. E um casal gracinha, ele alemão e ela colombiana. Ambos foram para o Brasil, ele pra fazer trabalho voluntário e ela pra estudar. Em Sta. Catarina se conheceram e começaram a namorar em português. Já estão juntos há dois anos e sempre falam português entre eles. Ele toca violão e ela pandeiro. Cantam músicas brasileiras. Então, tenho companhia pra falar português.
                               O sudanês, é engenheiro agrônomo. Chegou faz duas semanas e já vai embora. Disse que o chefe dele na empresa onde trabalha no Sudão, o quer de volta.
                                Temos ainda um americano,  "rapper" que faz versos de tudo. Ele  disse que é skatista e está aqui porque quer mudar radicalmente de vida. E a equatoriana também está aqui porque quer mudar de vida, quer por um fim definitivo num romance. A vincentiana que veio do Canadá, quer aprender a viver e trabalhar numa fazenda, porque pretende viver aqui. Talvez numa fazenda.
             
                                O professor vegano, teve uma gripe, uma febre, emagreceu muito e resolveu ir embora pra Colombia. Ele não estava feliz aqui. Eu fui me despedir dele. Nós brigamos muito e eu não queria que ele fosse embora bravo comigo. Enfim, fizemos as pazes.

                                A polonesa e a italiana voltaram de Belize, ficaram mais seis meses e foram embora. Eu tenho saudade delas. E um mês atrás voltou um dinamarquês, de Belize. Vai ficar aqui por mais cinco meses.  A chilena e a eslava foram pro Ecuador, no mes passado. E eu ainda troco mensagens com a chinesinha, minha neta adotiva e com a italiana, também adotada como filha.
                                 A hora da refeição é sempre animada. Falam-se muitas línguas, mas todos se entendem mesmo é em inglês. Todos, menos eu, que sou capaz de falar e escrever razoavelmente, mas entendo tudo por alto, acho que pego o sentido das coisas (ou não). Fico igual aquelas pessoas que só riem das piadas, horas depois. Quando eu consigo entender um assunto, eles já estão em outro. Participar de uma conversa com muita gente, é quase impossível.  Mas com poucas pessoas, até quatro, ou cinco, se eles pronunciam bem, dá pra conversar. O problema é  quando engolem palavras. Sei lá... talvez eu esteja ficando surda ou burra... mas, de repente, à noite sozinha no meu quarto, eu acabo entendendo uma frase! Antes tarde do que nunca!
                                   
                                                            ***

                                     Estou com muita saudade de tudo do Brasil! Estou com a sensação de que todo mundo me esqueceu! Please, se tem alguem da familia, ou amigo que lê o que eu escrevo, por favor, diga alguma coisa, estou carente! Meu email é lilinacintra@hotmail.com.

                                      Voce já pode dizer eu li na tela da
                                                                                           Eulina
                           












quarta-feira, 4 de novembro de 2015





                                                     FIQUEI
                 


                    Demorei pra escrever. Foram dias difíceis.
                    O dia do último piti, quando eu saí da reunião e disse que ia embora, foi 26/11.
                    Se fosse fácil obter a mudança da passagem logo, sem pagar um preço muito alto, eu teria ido embora no dia seguinte! Mas, ia gastar uma fortuna, e o próximo voo com preço dentro do meu reduzido orçamento, só no dia 21 de novembro. De 27 de outubro a 21 de novembro, eu teria que pagar caro e estar aqui, engolindo sapos, de qualquer jeito. E, de 21 de novembro a 26 de dezembro (data do meu ticket já pago), é só  um mes a mais e eu não gasto nada.  Então, fiquei.  Pobre tem que engolir sapo mesmo
                    Mas tudo tem o seu lado bom!  Todos os colegas me procuraram para se solidarizar comigo. Alguns disseram que queriam me ver feliz e se eu não estivesse feliz, eu devia mesmo ir embora... mas a maioria me pediu para ficar:

                    - Lina you are our inspiration! We want to be just like you when we have 72 years! We will miss you! We are so sad that you are going! Please stay! We love you!

                    Ouvi todas essas frases, diversas vezes, ditas por gente de todos os sexos de todas as idades, principalmente por jovens, com sotaques das mais diferentes nacionalidades! Foi uma verdadeira injeção de adrenalina na minha auto estima! Fiquei feliz por ter feito tantos amigos!                              Mesmo sendo amizades efêmeras, visto que as pessoas são de países diferentes e provavelmente eu não vou encontrá-las nunca mais, está valendo muito a pena, me sentir compreendida e aceita por todos!  As amizades são efêmeras, mas são intensas. e sempre restarão belas lembranças.
                     E no "common meeting" seguinte, quando eu anunciei a decisão de ficar, todos me aplaudiram calorosamente, durante um bom tempo! Fico emocionada de pensar nisso, até agora.
E até a diretora veio até mim e disse que as vezes ela erra... Eu encarei como um pedido de desculpas. Recebi grandes e apertados abraços de todos, inclusive do professor vegano, o que mais implica comigo! Afinal eu sou uma pessoa super saudável, aos 72 anos e adoro comer muita carne! Eu sou o exemplo vivo de tudo o que ele não gosta...
                     Aproveito para agradecer à minha filha Susi, que me ajudou muito, me aconselhou durante esse tempo e teve a santa paciência de pesquisar preços e datas de passagens pra mim, de novo!
                                                                           ***

                     E como vou ter que ter muita paciência, todos os amigos falaram que vão me ajudar a não perder a paciencia. Quero só ver...
                    "... I can try with a little help from my friends..."
                     Agora mesmo, a mexicana veio me inscrever numa sessão de yoga, que será ministrada pela diretora, hoje à noite. Combinamos que eu vou começar a aula, mas vou ter uma câmbra ou dor nas costas logo em seguida...

                                                                          ***

                     Depois, a vida aqui voltou a correr e eu já tenho muitas novas tarefas e "schedules" a cumprir.  Continuo detestando ter tantas coisas pra fazer. Acho que se nós tivéssemos menos tarefas, poderíamos fazer tudo muito melhor.
                     A próxima questão a ser abordada será sobre reciclagem. Gosto do tema, gosto do evento planejado. A criação de eco pontos para recolhimento de material a ser reciclado. Temos duas semanas pra planejar e executar isso. Acho perfeito. Porém... não tem continuação! Assim como o "kid's day", ou a limpeza das praias, não há o trabalho efetivo com a população. A população faz a festa em um dia e pronto... fica tudo como antes... fico achando que é tudo inútil, só serve para promover a escola.
                     E temos oito semanas até terminar o curso. Cada duas semanas, teremos uma interessante e atropelada programação. Eu já sugeri, por enquanto inutilmente, que continuássemos o trabalho sobre reciclagem com a população,  nas próximas  nas próximas seis semanas, Pretendo insistir com essa proposta.
                                                                            ***
                     Chegaram mais alunos para o curso de seis meses. Um dinamarquês, um alemão, uma vincentiana que mora no Canadá. uma equatoriana, um americano e um sudanês. Vejam que grande oportunidade de fazer novos amigos!


                      Voce já pode dizer eu li na tela da
                                                                               Eulina