PEREGRINOS
- Where are you from?
- Taiwan - abro o passaporte, debaixo do nome, está escrito República da
China. Eu mostro pra ela. Ela fica muito brava, me mostra a capa. TAIWAN assim, em letras grandes!
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Russas demoram um tempão no Google Translator. A frase é:
- Onde podemos lavar nuestros pecados?
Tenho um ataque de riso. Elas me olham atônitas, recomeçam a digitar furiosamente e me mostram a frase de novo:
- Onde podemos lavar nuestra roupa?
Eu tento explicar porque tanta graça, mas não consigo. Elas me olham com olhos azuis arregalados. Desisto. Mostro-lhes o salão com os colchonetes.
- Spasibo, spasibo, spasibo! - agradecem, euforicamente! Eu fico rindo. Elas não têm mochilas, carregam tudo em sacolas, estão vestidas com as estampas mais variadas e coloridas, que eu já vi, em tons elétricos de limão, laranja e cenoura. E discutem entre si, parece que brigam... Muito engraçadas!
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Alemã tem coceiras. O meu colega examina. São picadas de chinches. Um inseto parecido com uma pulga que se picar muito, dá febre. As instruções são: lavar todas as roupas da mochila, na máquina a 90 graus, impregnar a mochila com inseticida e colocar dentro de um saco de lixo, por pelo menos 12 horas. A alemã não entende muito. Olha espantada:
- Por que não vou dormir na cama? - em inglês, alemão e espanhol, mistura tudo e fica mais espantada ainda quando a colocamos num quarto especial, perto da lavanderia e começamos esvaziar sua mochila. Eu expliquei muitas vezes em inglês, espanhol e mímica, até que ela entendeu. Quando entendeu começou a chorar... Ai Jesus, o que eu faço? E na mesma linguagem, ela diz:
- Passei o ano todo juntando dinheiro e comprando essas coisas especiais para a caminhada, agora vai estragar tudo! E ela chorava em alemão...
- No llores... Las cosas no arruinarán ... Don't cry... Tomorrow you are going to walk again...
Só que não. Ela ainda está aqui e suas coisas ainda estão molhadas. Choveu o dia todo. Mas enfim ela entendeu que não ia estragar nada, recuperou o bom humor e limpou os banheiros pra mim.
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Três irmãs polonesas lindinhas de 15, 16 e 17 anos. E um pai todo orgulhoso. Elas resolveram arrumar a cozinha depois da janta. Não deixaram ninguém entrar. Lavaram tudo enquanto cantavam canções que eu imagino serem folclore polonês. Um barato. Deu pra entender o orgulho do pai. Legal a família caminhar junto!
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Um casal de franceses no pátio. Ele corta as unhas dos pés dela, faz massagens, trata das bolhas. A certa altur discutem. Ele aponta para um líquido e ela para um creme. Falam, falam e a campainha toca, eu tenho que atender. Quando volto, ela está com ambos os pés cheios de esparadrapos. Achei que devem ter usado o líquido. Se usassem o creme, o esparadrapo não ia grudar.
Agora é ela que está tratando dos pés dele. Bonito ver o casal um tratando do outro! Eles se amam e se cuidam!
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Esse é o melhor de todos os trabalhos. Acolher gente. Cada vez que a campainha toca, é uma nova surpresa, um outro país, outra língua, outras histórias... eu adoro.
Você já pode dizer eu li na tela da
eu
Emoções, caráteres...caracteres muito bem Eulina vc. gosta de gente e das diferenças entre elas, E escreve muito bem! Parabéns. Curta!
ResponderExcluirUma vez, há muito...muito tempo vc. me disse: "as pessoas são mais importantes que os lugares", lembra? Os seus posts de agora comprovam isso.
ResponderExcluirAs pessoas são realmente importsntes e quanto mais.vivemos temos.mais consciência disso. Muito legal essa.sua vivência com as diferenças.
ResponderExcluirMuito legal esse encontro com pessoas estranhas. Bom texto.
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