AULA DE SURF
Começa com todos os alunos sentados no chão, formando uma roda. O professor aponta para um aluno:
- Diga um motivo pelo qual você é grato hoje!
- Eu sou grato hoje, porque minha mãe fez a comida que eu gosto (êle disse um nome ininteligível de uma comida moçambicana). Depois apontou para uma das meninas que também disse porque estava grata. E assim por diante, um por um inclusive eu, todos tiveram seu momento de expressar o motivo de sua gratidão. Achei bonito. Alto astral. Todos os dias existe pelo menos um motivo pra gente ser grata.
Reparei que eles falam bem baixinho, com a cabeça inclinada, e olhando para o chão. O professor disse que são tímidos.
Depois dos agradecimentos, um momento de meditação. Todos se deitam e um dos meninos fala: relaxem os braços… as pernas… as costas… e eles ficam quietinhos meditando. Meditam rapidinho. Acho que uns dois minutos.
Em seguida, vão pegar as pranchas e a parafina. Ficam passando parafina na prancha bem mais tempo que ficaram meditando. Agora, todos falam, riem, fazem brincadeiras… a timidez sumiu.
Pranchas devidamente parafinadas, eles vestem as roupas de surfistas e estão prontos.
Nessa hora, acontece a grande transformação. Eles e elas colocam a prancha debaixo do braço e a postura muda. O olhar muda. O jeito de andar muda. Eles deixam de ser meninos negros e pobres, de um país de terceiro mundo, para serem atletas surfistas, com direito a sonhar com competições e campeonatos disputados principalmente por jovens, brancos e de classes sociais elevadas.
Fiquei admirada de ver a mudança. Todos eles e elas caminharam orgulhosamente até a praia, com a prancha debaixo do braço. Na praia, fizeram exercícios de alongamento e depois correram para a água. Daí por diante não sei mais descrever seus movimentos. Só fiquei admirando.
Mas sei que vi o suficiente para entender a inclusão social através do esporte.
Você já pode dizer eu li na tela da Eulina.
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