O
PRESENTE DA TIA ZELINDA
- O que é isso, mãe?
- Não sei, chegou hoje. O carteiro reclamou, disse que é
muito pesado.
- Vamos abrir?
- Não! Não é nossa. É da tia Zelinda
- E por que veio pra cá?
- Porque ela vem pra cá!
- Ai, mãe, vem fazer o quê?
- Passar o Natal.
- Mas ainda estamos em novembro!
- Você não conhece sua tia?
Suspiro.
***
- Oi Tia! – Sorriso
amarelo.
- Juju! Como você
cresceu! Minha linda loirinha, seus olhos parecem mais azuis! Imagine, já fez
treze anos!
Juju
continua sorrindo amarelo enquanto se desvencilha dos abraços e beijos da tia –
“Adultos sempre falam a mesma coisa.” – pensa.
- Chegou uma caixa pra você! O que é?
- Vamos abrir na noite de Natal! – Diz Tia Zelinda, se
divertindo com a curiosidade da sobrinha.
Suspiro. A caixa ficou guardada no armário do corredor,
esperando o Natal. Tia Zelinda ficou com a chave do armário. Juju suspirava
conformada, reprimindo sua curiosidade, cada vez que passava pelo corredor.
Contava os dias para o Natal.
***
Que saco!
Não aguento mais! Na semana passada foi o Lobo Mau. Não adiantou nada reclamar
com os porquinhos, nem com a Chapeuzinho! Ele continuou me assediando. E agora
a Fera! E o pior é que não consigo encontrar a Bela pra contar tudo! Não aguento
mais! Minha paciência está esgotada.
E assim, com a cabeça sempre ocupada com
esses pensamentos, a pequena feiticeira caminhava pela floresta, colhendo ervas
para sua poção. Ela está brava. Cenho
franzido, os olhos castanhos sombrios, boca crispada. Seus longos e negros
cabelos escorregam pela testa e ela os afasta nervosamente. Seus pequenos pés
descalços pisam duro, deixando marcas na terra.
Mas mesmo toda essa fúria não conseguem apagar sua beleza.
A pequena
feiticeira é linda. Ela pensa nas
bruxas. A da maçã, a do fuso envenenado, a da casinha de doces, todas feias
narigudas e invejosas. Está farta de seus maus olhados. E ainda tem a
perseguição do Lobisomem, do Bicho Papão, as traquinagens dos duendes... -
“Chega! Estou cansada! Não quero mais viver aqui. Não me importo de ser mortal.
Quero viver com os humanos!” - Segue
pensando.
- Bom dia Ariane!
- Bom dia Madrinha!
- Por que está tão mal humorada?
- Ah Madrinha, estou cansada! Faz treze anos que os ogros me
assediam, as bruxas invejosas me maltratam e os duendes fazem “bulling” comigo.
Me enchem o saco!
- Não fale assim! Você é uma feiticeira da mais nobre
linhagem, deve ter uma linguajar à altura. Ainda está aprendendo suas magias. Quando
crescer e aprender tudo, vai ser mais poderosa que todos eles.
Sorriso
amarelo. – “Adultos sempre falam a mesma coisa.” – pensa.
- Madrinha, por favor quero ir embora daqui! Não quero ser a
mais poderosa! Quero viver com os humanos!
- Não Ariane! Seu lugar é aqui, na Floresta Encantada!
- Ah Madrinha, eu não quero mais! Não gosto daqui, me deixa
ir!
E ela
insiste e insiste, por vários dias, até que a Fada Madrinha cede:
- Minha menina, se você quer mesmo viver com os humanos, não
vai mais contar com a minha proteção, não vai mais voltar a viver na nossa
floresta e vai perder alguns de seus poderes.
- Hum... Não me importo. Que poderes vou perder?
- Você não vai mais crescer. Terá treze anos para sempre e
só as crianças vão poder vê-la. E o principal:
Como você é uma feiticeira do bem, não poderá fazer nenhuma maldade. Se
fizer maldades, vai morrer.
Ariane pensa
só um pouquinho. Decide logo.
- Eu topo! Vou ser uma feiticeira do bem, não vou crescer e
vou brincar com crianças para sempre, Não quero saber de adultos.
Então, elas
se abraçaram pela última vez. Ariane enxugou duas lágrimas. A Fada Madrinha
agitou sua varinha, produzindo uma chuva de pequenas estrelas.
***
Na noite de
Natal, Juju finalmente abre a caixa.
Fica muito feliz! Uma boneca linda, morena, com olhos negros e longos cabelos
também negros, pezinhos pequenos e descalços. Tia Zelinda recebeu o melhor e
mais apertado abraço.
E tarde da noite, quando já estava
deitada em sua cama, para espanto de Juju, a boneca sorriu, piscou e disse:
- Oi Juju! Vou ser sua amiga invisível, enquanto você for
criança!
***
Duas tarefas: um conto sobre uma caixa misteriosa que chega
pelo correio e outro conto de fadas medieval. O conto de fadas deveria ser
cruel, como eram os contos medievais. Eu desobedeci. Juntei os dois e fiz um
conto só, sem crueldade.
Voce já pode dizer eu li na tela da
Eulina
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