quinta-feira, 29 de novembro de 2018


                                       O PRESENTE DA TIA ZELINDA

- O que é isso, mãe?
- Não sei, chegou hoje. O carteiro reclamou, disse que é muito pesado.
- Vamos abrir?
- Não! Não é nossa. É da tia Zelinda
- E por que veio pra cá?
- Porque ela vem pra cá!
- Ai, mãe, vem fazer o quê?
- Passar o Natal.
- Mas ainda estamos em novembro!
- Você não conhece sua tia?
          Suspiro.
                                                                         ***
 - Oi Tia! – Sorriso amarelo.
-  Juju! Como você cresceu! Minha linda loirinha, seus olhos parecem mais azuis! Imagine, já fez treze anos!
          Juju continua sorrindo amarelo enquanto se desvencilha dos abraços e beijos da tia – “Adultos sempre falam a mesma coisa.” – pensa.
- Chegou uma caixa pra você! O que é?
- Vamos abrir na noite de Natal! – Diz Tia Zelinda, se divertindo com a curiosidade da sobrinha.
           Suspiro.  A caixa ficou guardada no armário do corredor, esperando o Natal. Tia Zelinda ficou com a chave do armário. Juju suspirava conformada, reprimindo sua curiosidade, cada vez que passava pelo corredor. Contava os dias para o Natal.

                                                                             ***

          Que saco! Não aguento mais! Na semana passada foi o Lobo Mau. Não adiantou nada reclamar com os porquinhos, nem com a Chapeuzinho! Ele continuou me assediando. E agora a Fera! E o pior é que não consigo encontrar a Bela pra contar tudo! Não aguento mais! Minha paciência está esgotada.
          E assim, com a cabeça sempre ocupada com esses pensamentos, a pequena feiticeira caminhava pela floresta, colhendo ervas para sua poção.  Ela está brava. Cenho franzido, os olhos castanhos sombrios, boca crispada. Seus longos e negros cabelos escorregam pela testa e ela os afasta nervosamente. Seus pequenos pés descalços pisam duro, deixando marcas na terra.  Mas mesmo toda essa fúria não conseguem apagar sua beleza.
          A pequena feiticeira é linda.  Ela pensa nas bruxas. A da maçã, a do fuso envenenado, a da casinha de doces, todas feias narigudas e invejosas. Está farta de seus maus olhados. E ainda tem a perseguição do Lobisomem, do Bicho Papão, as traquinagens dos duendes... - “Chega! Estou cansada! Não quero mais viver aqui. Não me importo de ser mortal. Quero viver com os humanos!” -  Segue pensando.
- Bom dia Ariane!
- Bom dia Madrinha!
- Por que está tão mal humorada?
- Ah Madrinha, estou cansada! Faz treze anos que os ogros me assediam, as bruxas invejosas me maltratam e os duendes fazem “bulling” comigo. Me enchem o saco!
- Não fale assim! Você é uma feiticeira da mais nobre linhagem, deve ter uma linguajar à altura. Ainda está aprendendo suas magias. Quando crescer e aprender tudo, vai ser mais poderosa que todos eles.
          Sorriso amarelo. – “Adultos sempre falam a mesma coisa.” – pensa.
- Madrinha, por favor quero ir embora daqui! Não quero ser a mais poderosa! Quero viver com os humanos!
- Não Ariane! Seu lugar é aqui, na Floresta Encantada!
- Ah Madrinha, eu não quero mais! Não gosto daqui, me deixa ir!
          E ela insiste e insiste, por vários dias, até que a Fada Madrinha cede:
- Minha menina, se você quer mesmo viver com os humanos, não vai mais contar com a minha proteção, não vai mais voltar a viver na nossa floresta e vai perder alguns de seus poderes.
- Hum... Não me importo. Que poderes vou perder?
- Você não vai mais crescer. Terá treze anos para sempre e só as crianças vão poder vê-la. E o principal:  Como você é uma feiticeira do bem, não poderá fazer nenhuma maldade. Se fizer maldades, vai morrer.
          Ariane pensa só um pouquinho. Decide logo.
- Eu topo! Vou ser uma feiticeira do bem, não vou crescer e vou brincar com crianças para sempre, Não quero saber de adultos.
          Então, elas se abraçaram pela última vez. Ariane enxugou duas lágrimas. A Fada Madrinha agitou sua varinha, produzindo uma chuva de pequenas estrelas.

                                                                   ***

           Na noite de Natal,  Juju finalmente abre a caixa. Fica muito feliz! Uma boneca linda, morena, com olhos negros e longos cabelos também negros, pezinhos pequenos e descalços. Tia Zelinda recebeu o melhor e mais apertado abraço.
           E tarde da noite, quando já estava deitada em sua cama, para espanto de Juju, a boneca sorriu, piscou e disse:
- Oi Juju! Vou ser sua amiga invisível, enquanto você for criança!

                                                                       ***

Duas tarefas: um conto sobre uma caixa misteriosa que chega pelo correio e outro conto de fadas medieval. O conto de fadas deveria ser cruel, como eram os contos medievais. Eu desobedeci. Juntei os dois e fiz um conto só, sem crueldade.
Voce já pode dizer eu li na tela da
                                                        Eulina
          





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