O QUARTO
Hoje foi um
dia difícil. Vou descansar, dormir na minha cama confortável, cheia de
almofadas, depois de admirar as lindas flores do vaso em cima da mesinha de
cabeceira.
Não consigo. A loucura do dia me assalta.
Estou sempre do lado oposto de mim mesmo. Assim que penso uma coisa, fico
procurando uma contradição. Esbarro nos limites, me complico todo, porque nunca
sei como agir, a qual lado dar ouvidos... Eu e o meu oposto!
Então,
minhas ideias se agitam. As coisas mudam, o quarto muda. Móveis, pensamentos,
tudo fora do lugar, fora do contexto, fora da lógica, fora da lei da gravidade!
- Vou agir de acordo com o primeiro pensamento, ou com o seu
contrário? Eu me deito na cama ou caminho pelo teto?
O mundo está
de ponta cabeça. Só eu estou no chão, como deve ser. Mas, as paredes me
oprimem, os objetos todos me provocam, me observam atentos, desafiam a minha
lógica, sobem pelas paredes, propondo novos caminhos, novas perspectivas, novos
olhares... e eu os odeio por isso!
Odeio tudo!
Odeio todas as coisas certinhas que resolvem sair dos seus lugares só pra me
desafiar. Odeio minhas posições, posturas opiniões! Odeio meus contrários, meus
opostos! Quero me ver livre de todas as coisas, quero sair, voar, voar, mas não
há portas nem janelas neste quarto!
As coisas da casa toda vêm me assombrar,
sobem pelas paredes, se grudam ao teto, em cima de mim, até a banheira cheia de
água, e a água não derrama! Tudo dentro
de mim se agita. Minhas ideias estão todas giratórias, claustrofóbicas,
dicotômicas...
- AAAAAAAIIIIIIIIII!!!!!!!!!! – o grito sai das minhas
entranhas!
Alivio! Respiro fundo. As coisas voltam para o lugar.
As ideias também. Eu e o meu oposto. Cada coisa no seu canto, esperando a
próxima crise.
***
Tarefa; escrever texto sobre uma pintura de um quarto cujos
móveis estão nas paredes, no teto, espalhados de maneira inverossímil.
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