ROSILDO E ROSÉLIA
O belo homem chegou bem perto do Rosildo e
disse:
- Olhaí no seu aparelho, eu trouxe a lista. É só você
escolher um pecado.
Rosildo pega
o celular e nem precisa ligar, a lista já está na tela. “Ele tem poderes”
pensa.
- Vamos começar pelo primeiro: Orgulho. Será que escolho
esse?
- Sei lá... às vezes não me parece pecado. As pessoas se
orgulham da família que têm, estufam o peito com o hino nacional, quando fazem
um trabalho bem feito ou quando seu time
ganha um campeonato... não vejo maldade nisso...
O belo homem
tem uma expressão de dúvida, seus olhos oscilam entre o verde e o azul
metálico.
- Então Orgulho não é pecado? Eu ia escolher esse!
- Em algumas situações sim! É só ver a arrogância dos
políticos! Barriga cheia, bolsos também, peito cheio de superioridade e cabeça
vazia de ideias. Quando é assim, é um pecado, dos bons! – Os olhos assumem um
verde metálico intenso e os cabelos se despenteiam no alto, parecem crescer,
encorpar – Mas esse é um pecado para gente inteligente. Você não conseguiria.
Vamos partir para outro.
- Avareza? Será...
- Avareza não, seu burro! Um pé rapado como você não pode
ser pão duro, só pode ser duro mesmo!
- E Luxuria? Bem que eu gostaria...
- Você não se enxerga? Muito luxo, muitas mulheres, muito
sexo, muitos vícios... Você não tem dinheiro suficiente e nem competência, pra
cometer esse pecado!
O belo homem
já não está tão belo. O alto de sua cabeça cresce, seus olhos são cruéis, seu
hálito é fétido.
- Inveja?
- Ah! Esse você pode! – ele volta a ser belo imediatamente.
- Tá bom. Então eu fico com esse – Rosildo quer acabar logo
com esse papo – Vamos planejar as ações?
- Deixe de ser apressado! Só podemos escolher depois de
verificar a lista inteira. Vamos ao próximo.
- Ah, Seu Lulu, assim tá ficando muito difícil!
- Seu Lulu é a mãe! Olha lá rapaz, se você me chamar de Lulu
novamente, eu não faço trato nenhum! – Ele fica feio de novo, os olhos variam
do amarelo para o vermelho, a cabeça dele cresce, a pele escurece. Rosildo tem
medo.
- Tá bom, tá bom, vamos ao próximo: Gula. Pensando bem, esse
eu não quero. Se escolher esse, eu engordo e para conseguir o que desejo,
preciso ser bonito.
- É ... acho que você tem razão. Você precisa, pelo menos
ser bonito. – Ele olha Rosildo de alto a baixo, meio desanimado. – Será que
você consegue sentir Ira?
- Ah, quando eu penso no IPTU, no IPVA, no IR... Quando o “sistema”
cai na minha vez, depois de horas de fila... Quando me fecham no trânsito, me
dá vontade de matar alguém!
- Hum, hum... essa sua Ira não me convenceu muito. Mas o
próximo é a sua cara!
- Qual é o próximo, seu Lu...
- O homem fica feio outra vez. Muito feio. Pele escura,
hálito de enxofre, olhos de fogo.
- Não se atreva nem a pensar nesse apelido ridículo. Eu
exijo respeito!
- Qual é o próximo, senhor?
O homem
acalma um pouco. Até é capaz de um pequeno sorriso.
- O último: Preguiça.
- Ah, mas que pecado gostoso! Pra esse eu sou perfeitamente capaz. Então tá
resolvido. Eu tenho que cometer três pecados: Inveja, Ira e Preguiça. E em
troca...
- Há... há... há... - O homem riu uma risada maldosa, soltou
um arroto de enxofre, cuspiu as palavras de maneira asquerosa - Não, não, não!
Nosso trato é para um pecado só! Mas um pecado que seja cometido com toda a
intensidade possível, com todo o ódio de que um ser humano for capaz, que seja
a fonte de muitas maldades... – ele falava com empolgação, arrotava enxofre,
vomitava um líquido pútrido e ria, ria muito enquanto falava.
Rosildo
olhava assustado, estava quase arrependido.
- Vamos Rosildo escolha logo o seu pecado! – grita, feroz.
Cresceram chifres no alto de sua cabeça e ele brandiu um tridente.
Rosildo se
arrepende de vez.
- Olha seu Lulu, ou melhor, senhor Lúcifer, eu desisti. Não
quero pecar assim. Não vou mais vender minha alma. Pensando bem, a Rosélia não
merece. Ela que fique com aquele namorado sonso dela!
***
Tarefa: Texto sobre os pecados capitais.
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