ABRAÃO
E o Senhor
disse a Abraão:
- Tu me amas?
Abraão
responde:
- Mais que tudo Senhor!
- Então traga seu único filho Isaac até a terra de Moriá,
onde te indicarei o lugar onde deves sacrificá-lo em holocausto.
- Assim será, Senhor.
E assim foi.
Abraão fez como o Senhor havia
determinado. Chamou o filho, colheu lenha para o holocausto e ambos dirigiram-se
à terra de Moriá.
Chegaram
após três dias de viagem. Abraão erigiu um altar com pedras, onde deitou seu
filho sobre a lenha empilhada. Porém, antes que ateasse fogo dando início ao
sacrifício, um Anjo do Senhor apareceu e disse:
- Abraão! Já deste prova suficiente de teu amor ao Criador.
Poupa teu filho do fogo. Sacrifique uma ovelha no lugar.
Assim, uma
ovelha que pastava por perto foi imolada e oferecida em holocausto.
A Bíblia não
diz nada sobre o sofrimento de Abraão. Só menciona que ele ao responder às
perguntas do filho, dizia que Deus proveria o cordeiro que devia ser imolado.
***
Para mim,
essa história é um dilema insuportável: matar o filho ou desobedecer a Deus?
Que terríveis consequências seriam desencadeadas pela desobediência? Seriam
mais terríveis do que ter sido o agente da morte do próprio filho?
Mesmo
acreditando em alguma divindade, é difícil imaginar uma prova de amor tão
cruel! E mais difícil ainda, ver a obediência cega por parte de Abraão. Por
mais que eu pense no assunto, não chego a uma explicação que possa ser expressa
em palavras. E qualquer sentimento que eu imagine, seria tão grande e tão
doloroso, que não me aventurei sequer a pensar nele, muito menos a descrevê-lo.
***
Pensei muito
nesse assunto, há alguns anos, quando estive em Baku, capital do Azerbaijão. Baku
é uma cidade grande e bonita que está sendo modernizada pelos governantes, após
a queda da União Soviética, ocasião em que o Azerbaijão se tornou um país
independente e livre.
Passeando
pelas ruas da cidade, de tempos em tempos, eu me deparava com um curral, cheio
de ovelhas. Fiquei intrigada e, ao perguntar para um amigo brasileiro que
morava lá, fui informada de que as ovelhas seriam mortas no dia da festa de
Abraão. Foi a primeira vez que ouvi essa história.
E assim foi.
Quando chegou o dia da festa, os chefes de família se dirigiram aos donos dos
currais para escolher uma ovelha. Uma vez escolhida, a ovelha era degolada ali
mesmo no meio da rua. Uma bacia colocada em baixo recolhia o sangue. Depois de
retirada a pele, o comprador levava a ovelha para fazer um churrasco e
comemorar com a família. As peles ficavam dependuradas num varal. As ruas
próximas aos currais ficaram cobertas de sangue.
Concluí que
nem muitos anos do ateísmo soviético não conseguiram tirar do povo as crenças e
costumes bíblicos.
Crenças
absurdas e costumes bárbaros.
***
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