QUASE PRECONCEITOS
Um dos
últimos cinemas de rua. Plateia muito diferente daquela dos cinemas de shoppings.
Olho em volta. Salão de espera bem cheio. Observo a fila da pipoca.
Vários pares
de intelectuais gays conversando muito, gesticulando muito, discutindo temas da
moda. Às vezes, trocam olhares intensos. Alguns ostentam barbas bem cuidadas e brinquinhos
discretos. Outros usam óculos. Quando me olham, mostram uma certa arrogância
defensiva. Mas no geral, nem me olham.
Grupos de
mulheres com roupas esquisitas falam sobre temas feministas. Algumas são
lésbicas, seguram a mão de suas parceiras. Seus olhares são quase agressivos.
Empoderadas.
Mulheres,
muitas mulheres, a maioria parece ter por volta de cinquenta anos, cabelos
claros, cheios de luzes. Devem gastar muito em cabeleireiros. Bem vestidas,
roupas de grife.
Dois
velhinhos com bengala. Talvez os únicos machos do sexo masculino.
Um casal
jovem. Ele sarado, cheio de músculos, braços tatuados cabelo moicano. Ela bem
bonitinha, olhos muito maquiados, cabelo roxo e argola no nariz.
Muitos
casais descolados, homens de óculos e barbas, mulheres com saia longa e cabelos
desgrenhados. Parecem ser militantes de alguma causa naturalista ou vegana.
Olhares de quem conhece seus direitos.
E eu aqui
parada. Toda óbvia!
- Óbvia? Como assim óbvia?
- Saia combinando com a blusa e sapatos combinando com a
bolsa.
- E isso é ser óbvia?
- Uma vez, eu fui para o Havai. Adivinha o que eu trouxe de
presente para minhas filhas?
- ???
- Sandálias havaianas.
- Ah! Entendi.
- Eram ruins. As do Brasil são melhores.
- Hum.
As pipocas
estavam boas e o filme foi ótimo.
***
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