sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

 


                                                              

                                                                   INTRODUÇÃO 

                                                                                                                                            21/12/2012

    Estudei em colégio de freiras. Tinha aulas de catecismo, fiz primeira comunhão vestida de "noivinha", rezava o terço, ia à Missa todos os domingos... pacote completo.

   Gostava das aulas em que descreviam a viagem que Maria grávida, montada num burrico puxado por José, fizeram pelo deserto da Judeia, quando eles saíram de Nazaré e foram até Belém, para serem recenseados. Gostava também do nascimento de Jesus, em Belém. Como não conseguiram lugar em nenhuma hospedaria, Maria e José se abrigaram numa gruta, onde Maria deu a luz. No local, havia uma manjedoura onde o recém nascido foi colocado, envolto em panos. Gostava da estrela que guiou os reis magos, gostava dos pastores e dos anjos que cantaram aleluias.

   Depois, o menino cresceu e me ensinou que para viver em paz é preciso amar também os inimigos, por mais difícil que isso possa parecer. Eu também cresci, a vida seguiu e eu segui gostando de tudo isso até hoje.

                                                                            ***

   Pois bem. Um dia, um amigo que sabe que eu costumo fazer longas caminhadas, me passou um e-mail do Siraj Center, uma instituição palestina que promove caminhadas de Nazaré até Belém, atravessando o deserto de Negev (chamado de deserto da Judéia, nos tempos bíblicos). O caminho se chama "Natividade" e tem o objetivo de tornar mais conhecida a Palestina, sua cultura e seu povo. 

   Eu me interessei imediatamente por essa nova aventura. Entrei em contato com o Siraj Center e manifestei meu interesse em atravessar o deserto e chegar em Belém na véspera do Natal. Eles disseram que para programar a caminhada era preciso que houvesse no mínimo cinco pessoas. Então eu me empenhei em arranjar quatro peregrinos (as) para ir comigo. Arranjei bem mais. Fizemos algumas reuniões e eu estava animadíssima.

   No entanto, no dia sete de dezembro de dois mil e doze, durante uma operação militar realizada por Israel, houve um bombardeio e morreram mais de cento e setenta palestinos. Todos os meus amigos peregrinos desistiram de caminhar pela Palestina. Eu não desisti.

   Entrei novamente em contato com os organizadores e eles disseram que havia um grupo de italianos que já tinha confirmado a caminhada  para essa época. Mandei e-mail para os italianos e eles disseram: "Yes, you are wellcome! Si, sarai il benvenuto!" Enfim!

    Assim começou a minha grande aventura em terras palestinas, no dia vinte e um de dezembro de dois mil e doze. Vale lembrar que o Calendário Maia previu que o mundo ia acabar nesse dia. Tempos depois,  Hollywood fez um filme devidamente catastrófico sobre isso.

   Eu não me importei com o fim do mundo. Fui feliz para a Palestina, pronta para caminhar o caminho de Maria e José.

                                                                         ***



quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

 

          

                                                                    INTRODUÇÃO


Minha sobrinha é sócia de uma empresa de captação de voluntários para projetos sociais.

Em 2019, eu me inscrevi para ser agente de saúde na Amazônia, por um mês. Ia morar num barco e percorrer os rios, trabalhando em algumas cidades ribeirinhas. Uma grande aventura. Comecei a pagar em parcelas. Estava animadíssima, era a realização de um sonho antigo.

No entanto, veio a pandemia. O projeto foi sendo adiado. Eu continuei pagando as parcelas. Passou 2020, eu continuei pagando. Passou 2021, eu acabei de pagar... e o projeto foi cancelado! Que triste! Mas eu fiquei com o crédito.

Então, me ofereceram outras alternativas de projetos sociais em andamento. Aventura igual a da Amazônia, estava difícil. Mas após algum tempo, decidi ir para a África, em setembro de 2022. Moçambique, porque lá, falam português e principalmente, por caber dentro do crédito que eu já tinha.

Assim, comecei a me preparar para outra grande aventura. Quinze dias trabalhando em Moçambique! Porém, pagar uma passagem de avião para cruzar o Atlântico, ir para o outro lado do mundo e ficar só quinze dias? Era muito pouco.

Então, convidei duas amigas também aventureiras, para uma viagem à África. Elas toparam. Eu ficaria trabalhando em Moçambique, e quando terminasse o meu período, me encontraria com elas e faríamos um "tour" pela África do Sul. Começamos a definir os locais que iríamos conhecer. Elas se encarregaram de fazer a programação do roteiro. Eu fechei a minha passagem, com a volta marcada para outubro.

Porém, em julho, num encontro com as amigas, perguntei como estava o roteiro. Elas responderam:

- Porque você tem tanta pressa? Nós só vamos no ano que vem! 

Ai... elas erraram de ano! Ou fui eu que não expliquei direito quando eu iria? Não importa. Elas não poderiam ir em 2022. E eu já tinha fechado a passagem de ida e volta! Acabou que eu fiquei com quinze dias livres no continente africano. Que fazer?

Recorri novamente à minha sobrinha, que depois de falar: Tia do céu! (frase que ouvi várias vezes, ao vivo, ou por mensagens, durante toda a viagem), me ofereceu novas alternativas. Escolhi então, trabalhar por uma semana na África do Sul, e ainda me restaria uma semana para conhecer Capetown.

Foi assim que iniciei esta nova grande aventura. Primeiro em Moçambique, na cidade turística de Ponta do Ouro, onde trabalhei no projeto Lwandi Surf, depois na África do Sul, onde trabalhei no projeto Daktari e turistei em Capetown.

                                                                            ***










terça-feira, 6 de dezembro de 2022

 

                                                                


                                                                    ÚLTIMO DIA


Vou embora hoje. São seis horas da manhã. Escrevo sentada na escadinha da varanda da minha cabana,  onde fiquei  várias noites observando a lua e as estrelas. Espero a hora do "breakfast" e depois virá o carro que vai me levar a Hoedspruit. 

Gostei daqui? Sim. Gostei do projeto, da maneira como tratam os animais. Já a parte da inclusão social... Pelo que vi, acho que eles (europeus, brancos) querem formar mão de obra para servi-los. As meninas Lilly e Lou fazem tudo direitinho e o Freddie também, mas acredito que nem percebem os olhares desconfiados das crianças.

As meninas que passaram esta semana aqui, são ótimas. Todas querem estudar na universidade. Prestaram atenção às aulas, fizeram os exercícios, foram à piscina diariamente, por vinte minutos, alimentaram os bichos... Quando perguntaram a elas o que elas mais gostavam de fazer, uma delas respondeu: comer. Será que ela come o suficiente em casa?  E a mesa de refeições delas era separada. Elas recebiam o prato feito. Não se serviam no bufê, como o pessoal da administração e os voluntários.

Agora, vou para Hoedspruit. Fico lá dois dias e depois, Capetown, por mais três dias. Finalmente, livre, leve e solta! Depois volto para o Brasil.

                                                                   ***

Esta noite, ventou muito. Os leões não zurraram esta noite. Me disseram que eles não zurram quando venta. Agora está tudo em silêncio.  Nenhum pássaro cantando, nem as galinhas d'angola, nem  cachorros latindo, nem insetos zunindo. Esquisito. Parece que os animais se calam para ouvir o vento. O que será que o vento diz pra eles? Estou curtindo o silêncio da savana, me lembrando das férias de minha infância passadas na fazenda... Quanta paz, quanta beleza, segurança, crença no futuro... saudade!

Pronto. As galinhas d'angola acordaram. Ouço os "tofracos". 

                                                                     ***

Agora, já tomei o café da manhã. Estou aqui sentada no varandão, esperando a Van que vai me levar. Já deram comida para os bichos e eu aqui, sem fazer nada. Tentei fotografar os esquilos, mas não consegui. Eles correm muito.

                                                                     ***

Aqui, neste sofá é o fumódromo. Sim, a diretora, a chefa e alguns voluntários fumam. Eu acho ótimo, porque assim ninguém reclama. A chefa até me fornece um cigarro todas as noites, após a janta.

                                                                    ***

Recomeça a ventania! Leões quietos. Acho que eles estão achando bom que eu vou embora... Pra falar a verdade, eu também estou achando bom. É ótimo ver os bichos, alimentá-los, "take care"... mas eu gosto mesmo é de gente. Pensando bem, eu preferiria ter ficado mais uma semana em Moçambique... Agora está quase na hora da Van. Adeus Daktari.

                                                                        ***