segunda-feira, 24 de julho de 2023

ESCRITORA Chovi muito, relâmpagos e trovoadas, hoje, vento, às vezes estou ensolarada, cavalo negro selvagem, galopando nos verdes campos crianças brincando, mães zelosas, pais contentes, tias sorrindo ondas verdes do mar, céu azul, doce de leite, pirulito vestido novo, Elvis na vitrola, primeiro namorado, quanta emoção, coração pulando, mãos tremendo, fala gaguejante, estrelas no céu, lua prateada, rua escura, banco do carro, beijos sussuros, virgindade protegida, verão inesquecível, amor eterno, aé que se acaba, rotina, tédio, vida que segue, a fila anda, sem direção, norte, sul, ladeira abaixo, ladeira acima, parabens, muitos anos de vida.. crianças crescem, crianças se afastam, joves criam asas, vão embora, solidão... nostalgia, saudade do não acontecido... gaiolas abertas, pássaro solto de asas paralíticas, infância longínqua, caminhos estreitos, largos, longos passos trôpegos, decididos, lépidos, lentos, caio, levanto, caminho novamente, vou... sem sem saber pra onde, sem saber porquê, sem saber como... Vou.

quinta-feira, 20 de julho de 2023

RECOMEÇO Brancura. Hospitalar. Terapeutica. Química. Antiséptica. Anestésica. Dolorido. Sofrido. Lacrimoso. Deprimido. Choroso. Esquecido. Resignado. Obediente. Convalescente. Constante. Recuperado. Fraco. Saudável. Curado. Impaciente. Esperançoso. Curioso. Pesquisador. Caçador. Sensitivo. Intuitivo. Caminhante. Peregrino. Persistente. Vasculhador. Escondido. Descoberto. Pequeno. Indefeso. Sujo. Sarnento. Faminto. Anêmico. Enternecido. Comovido. Compadecido. Condoído. Acolhido. Acariciado. Afagado. Tratado. Restabelecido. Saudável. Amigável. Contente. Sorridente! Juntos. Amigos. Inseparáveis. Amorosos. Felizes. Aventurosos. Caçadores. Curiosos. Companheiros. Caminhantes...
ONTEM Despertador. Quarto. Banheiro. Espelho. Susto! Feiura. Tristeza. Ontem... Janela. Prédios. Ruas. Gente. Carros. Café. Leite. Pão. Manteiga. Remedinho. Solidão. Lembranças. Celular. Amor. Esperança... Desapontamento. Tristeza. Banho. Sabonete. Xampu. Chuveiro. Toalha. Desodorante. Camisa. Calça. Cinto. Gravata. Meias. Sapatos. Paletó. Espelho. Porta. Chaves. Corredor. Elevador. Vizinho. Sorriso. Garagem. Carro. Ontem... Solidão. Tristeza. Manobras. Porteiro. Sorriso. Rua. Trânsito. Engarrafamento. Raiva. Palavrão. Semáforo. Relógio. Ansiedade. Carros. Gente. Acidente. Vítimas. Polícia. Relógio. Ansiedade. Atraso... Enfim! Velocidade. Prédio. Identificação. Garagem. Crachá. Elevador. Ascensorista. Sorriso. Pessoas. Bom dia. Tristeza. Corredor. Firma. Colegas. Amigos? Cumprimentos. Sorrisos. Bom dia. Sala. Escrivaninha. Computador. Papéis. Relógio. Em tempo. Alívio! Trabalho. Celular. Ordens. Leitura. E-mails. Relatórios. Digitação. Tédio. Janela. Céu. Nuvens. Desamor... Tristeza. Pausa. Cafezinho. Fofocas. Risadas. Amigos? Falsidade. Tristeza. Almoço. Amigos? Prato do dia. Papos. Fofocas. Piadas. Gargalhadas. Tristeza. Chefe. Esperança! Promoção? Desilusão. Ordens. Trabalho. Tristeza. Reunião. Blablabla... Tédio. Sono. Chatice. Irritação. Raiva. Resignação. Tristeza. Pausa. Café. Amigo? Confidência! Espanto. Indignação! Dúvida. Opiniões. Discussão. Injustiça! Injustiça! Injustiça! Raiva. Fúria. Vingança! Deixa disso. Blablabla...Tamo junto. Traíra! Moleque! Irresponsável! Resignação. Sorriso. Falsidade. Merda. Tristeza. Relógio. Enfim! Chega! Alívio. Finalizar. Desligar. Paletó. Corredor. Elevador. Ascensorista. Sorriso. Tristeza. Garagem. Carro. Ontem... Rua. Carros. Trânsito. Tristeza. Solidão. Dor. Lágrimas. Desespero. Choro! Soluços! Gritos! Urros! Semáforo. Estrondo! *** -Seu guarda, eu juro que não tenho culpa! Eu nunca passo no vermelho! Ele entrou na minha frente feito um doido! O caminhão é pesado, não deu para frear! *** Maria Eulina

sexta-feira, 7 de julho de 2023

O VESTIDO VERMELHO Quieta em seu quarto, Ana pensa: “Não quero mais ter que cumprir ordens, fazer coisas que detesto, conviver com pessoas chatas... não quero!” Sentado em uma poltrona, o irmão de Ana, que veio do interior atendendo ao seu chamado, olha para ela deitada em sua cama imensa e a observa calado: “Ela parece tão frágil, tão desamparada... Ninguém seria capaz de perceber a força e a coragem de minha irmã. Sinto seu dilema. Pela expressão determinada de seu rosto, sei que chegou a uma conclusão. E sei também, que daqui por diante, nada irá detê-la. Vai agir sempre de acordo com sua decisão.” Assim, ambos permanecem calados. Ela com seus pensamentos e decisões. E ele na expectativa, admirando a aparente fragilidade de Ana. Então, o marido entra no quarto. - Chega de preguiça Ana Claudia! Temos que ir ao jantar da empresa. Sai dessa cama! Veste aquele vestido vermelho que comprei ontem. Você precisa estar bem bonita hoje. Quero que todos vejam que me casei com a garota mais linda da turma! Nesse momento, Ana se levanta. Seu corpo, antes com a aparência frágil, se ergue. Sua pele toda revigorada, parece iluminar-se. Com o queixo empinado e olhar faiscante, diz: - Não vou ao jantar. Vou ficar aqui, aproveitando a companhia do meu irmão. - Ora, não me venha com desculpas! Já combinamos tudo! Vai se arrumar, não se atrase... - a voz é autoritária, mas ela interrompe: - Eu não combinei nada! Não quero ir e pronto! - Mas você é minha mulher! Tem que comparecer ao jantar em minha homenagem! - Eu não quero! E não vou! “Enfim, minha irmã se revela! Deixa de se comportar como uma dondoca e volta a ser a menina linda e atrevida que sempre foi, até se casar.” O irmão fica feliz. Não veio de tão longe, em vão. Bate palmas em pensamento. Quase pula de alegria. Mas permanece calado. *** A festa foi boa, mas o homenageado não conseguiu aproveitar. E quando voltou para casa, não encontrou Ana nem seu irmão. No guarda-roupa, apenas o vestido vermelho. ***
Maria Eulina qui., 16 de jun. de 2022, 14:10 para susi O DIA MAIS FELIZ DA MINHA VIDA 10/05/19 Hoje é o dia mais feliz da minha vida! Estou maravilhado! Este lugar é tão lindo e eu sempre sonhei com esse tipo de trabalho! Só uma coisa me preocupa. As máquinas daqui são tão modernas, fazem tantas coisas... eu tenho medo de não aprender a usá-las... eu sempre costurei numa Singer de pedal... Ah... deixa pra lá! Pensamento positivo! Eu vou fazer o treinamento e vou aprender tudo! 15/05/19 O treinamento é joia! Estou aprendendo muito! Mas também, nem pisco durante a aula. E a aula prática, então! Maravilha! A agulha desliza no tecido... faz todo o tipo de ponto... tão fácil, tão certinho... dá gosto costurar com essa máquina... eu acho que vou aprender até a bordar... Meu chefe me elogiou, disse que vou indo muito bem e que logo vou treinar a modelagem e depois o corte! Imagina! Meus desenhos virando roupas! 21/05/19 Comecei a modelagem. É mais difícil do que eu pensava, mas estou ficando todos os dias uma hora a mais na oficina, para me exercitar. Essa uma hora a mais é complicada. Todo mundo vai embora e só o Serginho fica costurando. Costurando não. Fica mesmo é olhando pra mim, dando palpites... Aliás, desde o primeiro dia acontece isso. Ele me assedia. Ai, que garoto metido! Ele se acha. Só porque está aqui há mais tempo, acha que pode me tratar assim. Já disse que não quero saber de nada, que sou comprometido, mas ele não desiste! 02/06/19 Nem me aguento de tanta alegria! Meu primeiro vestido ficou pronto! Lindo! Fantástico! Maravilhoso! Tá certo que o detalhe da saia não ficou bem do jeito que eu queria... Mas coloquei um bolso e escondi a imperfeição. O chefe nem notou... eu desenhei o bolso nos croquis e ele achou que era assim desde o começo... hehehe... O Serginho está cada vez mais abusado! Acho que vou pedir pro meu bofe vir me buscar aqui todos os dias, só pro Serginho ver que eu sou comprometido mesmo. 03/06/19 Dei o vestido pra minha irmã. Ai como ela é chata! Em vez de me agradecer, perguntou o que é que eu tinha aprontado, pra querer disfarçar dando presentes... Maléfica! Ela não consegue perdoar o caso que eu tive com o Paulão. Ai que tesão de homem! Quem vê não imagina que ele é bi. A chata da Maisa não tinha percebido. Ela devia é me agradecer por eu ter aberto os olhos dela. Não queria ver minha única irmã casada com um cara assim. Mas que ele era gostoso, era... 10/06/15 Hoje, o Rodnei vem me buscar. Vou ficar de amasso com ele bem na frente do Serginho, só pra mostrar que já tenho um bofe só meu. E eu só dele. Semana que vem, eu passo pro atelier. Já acabou o treinamento e eu já sei fazer tudo. Não vejo a hora! Imagina, eu no meio de todas aquelas mulheres lindíssimas, costurando pra elas desfilarem nas passarelas... ficando nuas na minha frente pra experimentar as roupas... ai, sou capaz até de ter uma recaída hétero! Que será que o Serginho ia achar disso? Ah... deixa pra lá, vou amar muito o Rodnei hoje. 14/06/15 Poxa! Fiquei sem palavras! O Rô veio me buscar, Nós nos beijamos na frente do Serginho e eu vi a cara que ele fez! Ele me olhou de um jeito tão... tão... sei lá... me comoveu. Meu coração até falhou uma batida! Então ontem, depois daquele olhar... acabei dispensando o Rô. Descobri que me apaixonei pelo Serginho. Você acredita que ele me pediu em namoro? I-na-cre-di-tá-vel! Pois é, eu aceitei! E eu que achava que ia ter uma recaída hétero! Agora, o dia mais feliz de minha vida passou a ser ontem, 13/06, dia de Santo Antônio! *** Pseudônimo: Maria Martins
A VIAGEM O pai reuniu a família: - Vamos para a fazenda, nas férias. - Pai, posso levar um amigo? - Pode. Mais alguém quer levar um amigo ou amiga? - Eu quero levar minha colega da escola! - E você, não quer levar ninguém? – o pai pergunta para a filha menor. - Não, pai. A mãe da minha amiga disse que ela era muito pequena para ir tão longe... – vozinha triste. A mãe, preocupada, como sempre: - Então tratem de avisar os amigos e preparar tudo. Arrumem as malas e não levem muita roupa, porque a fazenda não é lugar para desfile de moda. E eu, na qualidade de agregada importante, já começo a me preparar para a longa viagem. Daí a uma semana, tudo pronto. Todos nós acordamos às quatro horas da madrugada. Os amigos tinham dormido na nossa casa e já estavam também de bagagem pronta. A mãe cuidou dos lanches, e a filha menor teve o direito de levar sua boneca, já que não levaria amigos. Eu, preocupada com tanta gente, tantas malas, bolsas, sacolas, pacotes etc., fico pensando: “Será que isso vai dar certo?” Saímos com o sol raiando. Todos ainda meio sonolentos, seguimos em silêncio. A viagem seria longa, grande parte em estrada de terra. Mas, apesar do silêncio, estamos todos animados. Logo, os jovens acabam de acordar e começam a cantar: “Alecrim, alecrim dourado, Que nasceu no campo, Sem ser semeado...” E todas as vozes esganiçam e desafinam em conjunto, sob os olhares e sorrisos condescendentes e quase orgulhosos dos pais. Na verdade, eu também gosto da cantoria... Fomos indo muito bem, até que... Uma subida! Não conseguimos. Tentamos novamente, nos esforçamos muito..., mas não deu. Então, os jovens descem e começam a subir a pé. Passa um caminhão. - Pra onde vocês vão? - Pra Mato Grosso! - A pé?!?! É muito longe! Subam na carroceria, que eu levo vocês até o fim das subidas. São duas subidas bem grandes, vocês vão se cansar muito! - Que bom, moço! E os jovens sobem no caminhão, enquanto nós seguimos, agora mais leves, ouvindo o ronco aliviado do motor. No topo da segunda subida, os jovens descem do caminhão e depois de agradecerem muito, sentam-se na beira da estrada, à espera dos mais velhos. Não demorou quase nada e todos se reúnem novamente. Esse sobe e desce do carro, acontece em várias subidas, ao longo do caminho. Ainda bem que são todos bem humorados. Agora, eles atacam de Doris Day: “Que será, será Whatever will be, will be The future is not ours, to see, Que será, será...” E assim continuamos, em meio a muitas cantorias, até a primeira parada num posto de gasolina. O pai pede água para o frentista, que traz um balde. Em seguida, derrama um poco de água numa latinha, sob o olhar intrigado do rapaz. - É que eu gosto de pescar, preciso de minhocas. As minhocas mato-grossenses são muito magrinhas. Eu estou levando minhocas paulistas bem gordas, nesta latinha. O frentista olha com cara de “tem louco pra tudo”, enquanto todos nós rimos muito da situação. Essa cena, com poucas variações se repete ao longo do caminho, todas as vezes em que paramos para encher o tanque. Muito engraçado. Enfim, chegamos à beira do portentoso rio Paraná. A ponte ainda está em construção. A travessia é feita de balsa. Longas filas para a balsa. Jamantas, caminhões, ônibus, todo o tipo de veículos de carga, até tratores, mas poucos carros. Eu fui encarregada de guardar o lugar. E, de acordo com o tamanho da fila, será preciso pernoitar numa pousada. A mãe, sempre preocupada: - Peguem só o necessário para dormir, não precisam levar outra roupa. Amanhã, vistam essa roupa mesmo. Não quero que vocês remexam todas as malas! Senão, vão acabar perdendo suas coisas no meio da bagunça! Em vão. Todos remexeram tudo. Ficou tudo uma zona. Mas muito divertido. Enquanto isso eu, parada na fila, aproveito o silêncio. Depois de tanta cantoria, e de tanta algazarra, essa calma era bem-vinda. Aproveito para descansar, renovar minhas forças. Dia seguinte, atravessamos o grande rio. Que lindo! Ficamos todos quietos. Até os jovens ficam em silêncio, de olhos arregalados, diante do espetáculo da natureza. Chegando à outra margem, estamos em Mato Grosso. Sentimos um cheiro ruim. O que será? Procuramos fora do carro. Olhamos todas as solas dos sapatos, olhamos as sacolas de comidas para ver se havia alguma estragada... até que achamos a latinha! As pobres minhocas morreram assadas, cosidas ou afogadas! Todo mundo dando risada e o pai desconsolado. Tinha que se conformar com as magrinhas minhocas mato-grossenses. Retomamos a estrada. O repertório da cantoria muda. “La vai uma chalana, Bem longe se vai...” Mudam as canções, mas a desafinação continua a mesma. E quanto mais desafinam, os jovens mais se divertem. Pensando bem nós, os mais velhos também nos divertimos. Eles jogam “stop”. - Nome próprio com a letra “i”! - Indalécio! - Não vale, esse nome não existe! - Existe sim, é o capataz do meu tio! - E com a letra “p”! - Pancrácio! - Vixe! Que nome feio! - Letra “m”! - Essa letra não vale! Tem muito nome! Agora, estamos na última etapa. Estrada de terra muito vermelha. Poeirão. Buraqueira. Vamos todos chacoalhando. Várias paradas para fazer pipi, tomar um lanchinho, ou mesmo descansar um pouquinho. Em São Paulo, sempre há um boteco, um bar de beira de estrada, uma pousada, mas aqui... é tudo no mato, mesmo. E o mato é mesmo grosso. A algazarra prossegue. Os jovens contam suas histórias, contam vantagens, às vezes brigam, - Chega pra lá! Você está usando quase o banco inteiro! - Eu não vou mais brincar de “stop”! Vocês nunca aceitam as minhas palavras! - Vamos mudar de músicas! Eu não aguento mais essas! Os pais intervêm, apartam as brigas, pedem silêncio. Em vão. Estamos quase chegando. A gritaria aumenta. Agora, todos participam. Gritam os nomes dos tios e demais moradores da fazenda, em meio às estridentes buzinadas. *** O amigo da filha mais velha desce para abrir a porteira. Os moradores da fazenda já estão na frente da casa para nos dar as boas-vindas. Estacionamos embaixo de uma grande mangueira, onde já está estacionado um outro carro. Todos descem, cambaleando, sacudindo o corpo cansado da viagem. Eu cumprimento o amigo: - Olá Sr. Fusca, como vai? - Eu vou muito bem, dona Kombi. A senhora foi bem de viagem? - Estou cansada, mas fui muito bem, apesar da confusão, da superlotação, da gritaria, das subidas, das minhocas, da fila da balsa, e dos buracos na estrada, eu sobrevivi. Daqui a pouco, sei que vão me dar um bom banho e eu estarei em grande forma novamente! - Nossa! Parece que foi uma grande aventura! - Foi mesmo! Mas eu sou amiga da família há muito tempo e eles sempre me tratam muito bem. Além disso, são muito divertidos. Depois do banho, o resto do dia foi dedicado a contar as peripécias da viagem para o Sr. Fusca. Ele riu muito. *** Pseudônimo: Maria Martins Oi! Agora deu? Este texto é uma crônica. Se não deu, tente o Dia Mais Feliz. Obrigada Mami

  SUBSTANTIVOS

 

          Cama. Quarto. Banheiro. Espelho. Susto! Feiura. Tristeza... Janela. Ela... Céu. Sol! Esperança... Prédios. Ruas. Carros. Calçada. Gente.

          Café. Leite. Pão. Manteiga. Remedinho. Solidão. Lembranças. Celular. Ela! Esperança...  Desapontamento. Tristeza.

          Banho. Sabonete. Xampu. Chuveiro. Toalha. Desodorante. Camisa. Calça. Cinto. Gravata. Meias. Sapatos. Paletó. Espelho. Ela... Tristeza... Porta. Chaves. Corredor.

          Elevador. Vizinho. Sorriso. Garagem. Carro. Ela... Solidão. Tristeza. Manobras. Porteiro. Sorriso.

          Rua. Trânsito. Engarrafamento. Raiva. Palavrão. Semáforo. Relógio. Ansiedade. Carros. Acidente. Vítimas. Polícia. Relógio. Ansiedade. Atraso... Enfim! Velocidade.

          Prédio. Identificação. Garagem. Crachá. Elevador. Ascensorista. Sorriso. Pessoas. Bom dia. Tristeza. Corredor. Firma.

         Amigos? Cumprimentos. Sorrisos. Sala. Escrivaninha. Computador. Papéis. Relógio. Em tempo. Alívio! Trabalho. Celular. Ordens. Leitura. E-mails. Relatórios. Digitação. Tédio. Janela. Céu. Nuvens. Ela... Tristeza.

          Pausa. Cafezinho. Fofocas. Risadas. Amigos? Falsidade. Tristeza.

          Almoço. Amigos?  Prato do dia. Papos. Fofocas. Piadas. Gargalhadas. Tristeza.

          Chefe. Esperança! Promoção? Desilusão. Ordens. Trabalho. Tristeza.

          Reunião. Blábláblá... Tédio. Sono. Chatice. Irritação. Raiva. Resignação. Tristeza.

          Pausa. Café. Amigo? Confidência. Espanto. Dúvida. Opiniões. Discussão. Indignação. Injustiça! Injustiça! Injustiça! Raiva. Fúria. Blábláblá. Deixa disso. Tamo junto. Traíra! Moleque! Irresponsável! Resignação. Sorriso. Falsidade. Merda. Tristeza. 

          Relógio. Enfim! Alívio. Desligar. Paletó. Corredor. Elevador. Ascensorista. Sorriso. Tristeza.

          Garagem. Carro. Ela... Rua. Carros. Trânsito. Tristeza. Solidão. Dor. Lágrimas. Desespero. Choro! Soluços! Gritos! Urros! Semáforo. Estrondo!

                                                                       ***

- Seu guarda, eu juro que não tenho culpa! Eu nunca passo no vermelho! Ele entrou na minha frente feito um doido! O caminhão é pesado, não deu para frear!

                                                                        ***

 

Pseudônimo: Maria Martins