sexta-feira, 7 de julho de 2023

O VESTIDO VERMELHO Quieta em seu quarto, Ana pensa: “Não quero mais ter que cumprir ordens, fazer coisas que detesto, conviver com pessoas chatas... não quero!” Sentado em uma poltrona, o irmão de Ana, que veio do interior atendendo ao seu chamado, olha para ela deitada em sua cama imensa e a observa calado: “Ela parece tão frágil, tão desamparada... Ninguém seria capaz de perceber a força e a coragem de minha irmã. Sinto seu dilema. Pela expressão determinada de seu rosto, sei que chegou a uma conclusão. E sei também, que daqui por diante, nada irá detê-la. Vai agir sempre de acordo com sua decisão.” Assim, ambos permanecem calados. Ela com seus pensamentos e decisões. E ele na expectativa, admirando a aparente fragilidade de Ana. Então, o marido entra no quarto. - Chega de preguiça Ana Claudia! Temos que ir ao jantar da empresa. Sai dessa cama! Veste aquele vestido vermelho que comprei ontem. Você precisa estar bem bonita hoje. Quero que todos vejam que me casei com a garota mais linda da turma! Nesse momento, Ana se levanta. Seu corpo, antes com a aparência frágil, se ergue. Sua pele toda revigorada, parece iluminar-se. Com o queixo empinado e olhar faiscante, diz: - Não vou ao jantar. Vou ficar aqui, aproveitando a companhia do meu irmão. - Ora, não me venha com desculpas! Já combinamos tudo! Vai se arrumar, não se atrase... - a voz é autoritária, mas ela interrompe: - Eu não combinei nada! Não quero ir e pronto! - Mas você é minha mulher! Tem que comparecer ao jantar em minha homenagem! - Eu não quero! E não vou! “Enfim, minha irmã se revela! Deixa de se comportar como uma dondoca e volta a ser a menina linda e atrevida que sempre foi, até se casar.” O irmão fica feliz. Não veio de tão longe, em vão. Bate palmas em pensamento. Quase pula de alegria. Mas permanece calado. *** A festa foi boa, mas o homenageado não conseguiu aproveitar. E quando voltou para casa, não encontrou Ana nem seu irmão. No guarda-roupa, apenas o vestido vermelho. ***

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