domingo, 27 de setembro de 2015





                                                             VAIDADE  OU  ?????


                   

                        Agora, vamos participar da Treelimpics 2015.  É uma competição mundial, patrocinada pela ENO - Environment On Line, uma ong ambientalista. Temos reuniões diárias para planejar como plantar o maior número de árvores possível, envolvendo todas as escolas e grupos comunitários de St. Vincent. A competição foi criada por Mika Vanhanen, um finlandês preocupado com o desmatamento, e um dos critérios de premiação é o grau de envolvimento do país. No ano passado, St. Vincent ganhou a medalha de ouro. Foi o país com a maior porcentagem de envolvimento (noventa e nove por cento das escolas), mas não de plantio.
                        E só poderia ser assim, porque a ilha de St. Vincent já é uma grande floresta tropical, com algumas pequenas cidades perto das praias, nem tem lugar para plantar um grande número de árvores. Mas as escolas e grupos se registram para participar e depois fotografam o evento. O evento consiste em uma aula sobre a importância das árvores e depois o plantio de algumas. Tudo deve ser documentado e fotografado. Depois compara-se com a porcentagem de envolvimento de outros países. Ganha o que ficar mais próximo de cem por cento.
                        Numa das reuniões eu perguntei por que plantar mais árvores, num lugar já tão cheio de florestas, não seria melhor falar sobre preservação?  Depois de alguma enrolação, disseram que a participação é importante para elevar a auto estima do país, funcionando como uma forma de abordagem com a população. Eu ouvi e fiquei quieta. Mas fiquei pensando que existem outras formas de abordagem, talvez muito mais eficientes.
                        Além disso, o país só ganhou a medalha devido à participação da RVA. A ENO forneceu as árvores, o transporte e camisetas, e a RVA forneceu o trabalho voluntário dos estudantes, que deram a aula e depois fotografaram e registraram o plantio em todas as escolas do país.
                        Observo a maneira como tratam o assunto. Estão muito preocupados com a competição, e principalmente com a divulgação. Mas, não nos ensinaram a plantar as árvores! Quando eu perguntei pela primeira vez, disseram é só cavar um buraco e enterrar a raiz, como nós fizemos com as mudas de moringa, voce não se lembra? Como sempre devolveram a pergunta. E enquanto eu pensava na resposta em inglês, eles já tinham mudado de assunto.  Mas, eu não desisti. Na primeira oportunidade, perguntei:
                         - Quais árvores vamos plantar?
                         - Manga, mamão, abacate, maracujá... foi a resposta. Era o que eu precisava:
                         - As raizes e as copas dessas árvores são diferentes umas das outras. Todas vão ser plantadas  do mesmo jeito? E o maracujá que é trepadeira?  - eu disse isso tudo com mímica, porque muitas palavras eu não sei em inglês. A resposta veio um pouco embaraçada:
                         - Passion fruit (maracujá) must be planted near other tree.
                         - Which tree? Sometimes, one tree kills the other... - e finalmente, a resposta que eu queria:
                         - When we receive the trees, we are going to learn how to plant each one.
                         - OK! And when are we going to receive the trees?
                         -  I don't  know. We are calling the Minister of Agriculture every day to ask him when the trees will arrive here, but we didn't get the answer yet.
                          Esse papo já tem mais de uma semana. Até agora não sabemos onde estão essas árvores, nem quando elas chegarão aqui. E já estamos planejando ir às ilhas Grenadines para dar aulas e  plantar  árvores. Estamos fazendo orçamento de quanto fica o transporte, a estadia e a alimentação nas ilhas. Já preparamos as aulas. Só falta o mais importante: as árvores e saber como plantá-las.
                          Estou curiosa pra conhecer as outras ilhas. Principalmente, porque na menor delas, onde há só uma escola, vamos só eu e uma das colombianas, sem nenhum professor pra vigiar o que fazemos e como fazemos. Além de ser uma boa oportunidade pra quebrar regras impunemente, vai ser bom poder conhecer e trabalhar com a população, sem a presença da RVA.

                                                                        ***.
                 
                           Fizemos também outro trabalho com o povo. Fomos limpar as praias. Saímos todos no caminhãozinho, munidos de sacos de lixo. Fomos parando em cada praia onde desceram duplas de alunos voluntários, cada dupla acompanhada de um professor. Disseram que a população ia participar, porque eles tinham contatado os líderes comunitários.
                           Eu desci num vilarejo próximo à praia de Rosebank  A professora das "conversas", uma das colombianas e eu. O líder comunitário estava nos esperando. Fomos seguindo o líder, descendo por uma viela tortuosa, rodeada de casebres até a praia. Eu me lembrei das vielas das favelas do Brasil e das vielas das cidades da Palestina. Pobre. Muito Pobre.
                          Chegamos à praia. Linda! Paisagem deslumbrante, o mar azul do Caribe, os botes dos pescadores na areia, as árvores enormes, com suas grandes raízes rodeadas de pedras igualmente enormes... e lixo, muito lixo. Garrafas, plásticos, fraldas de bebê, sapatos velhos, embalagens, carcaça de TV, de fogão, de geladeira, restos de teclados de computadores, roupas velhas... que tristeza...Num dos cantos, o mais fedorento, uma casinha. Acho que é o banheiro coletivo. Um horror.
                           Esperamos ajuda do povo. O líder vai chamá-los. Começamos a limpar. Cada uma com seu saco de lixo, catamos as coisas do chão. Trabalho pesado. Pesado e sujo. O líder volta com um homem. Ele ajuda um pouco, até o primeiro saco se encher. Aí ele vai embora. O líder já tinha ido. Ficamos nós três catando coisas na praia, sob um sol de quarenta graus. Eu encho três sacos, suando por todos os poros. Vou bebendo água pra não desidratar. Achamos vários cascos de tartarugas gigantes. Acho que mataram para comer. No quarto saco de lixo, minha água acaba.
                           Ainda bem que eu vim com o biquini por baixo.  Tirei o short e a camisa da RVA e entrei no mar. Abençoado mar do Caribe! Estamos na lua crescente, o mar está bravo, ondas altas, bastante correnteza, eu fico no rasinho, me refrescando, mas mesmo assim, acho perigoso. Deve ser por isso que os botes estão todos na areia e a praia cheia de marmanjos deitados na sombra das árvores nos vendo trabalhar... que merda!
                           Saio da água com as energias refeitas e continuo catando o lixo. Já são quase onze horas, e o lixo acabou. Limpamos tudo sozinhas. Merda de povo preguiçoso!  Vamos embora. Chamamos o líder para ele levar os sacos lá pra cima, onde passa o caminhão de lixo, e vamos começar a subir a viela.                      
                          Eu estou toda molhada e cheia de areia. Olho em volta. Vejo uma mulher lavando roupa numa torneira, em baixo de uma árvore. Peço pra me lavar um pouco, ela me olha de um jeito divertido e abre a torneira pra mim. Eu lavo as mãos, os pés e a parte da frente do corpo, acho que estou pronta pra vestir a roupa, agradeço e vou indo embora. Aí, ela me olha mais divertida ainda e diz:
                          - Your back is full of sand, miss!
                          - Oh yes! Let me wash it - tentei abrir a torneira e não consegui. A água espirrava de todos os jeitos, fazia um arco, fazia uma bola, fazia um arco íris, tudo menos um esguicho na mesma direção. A essa altura, a moça já estava dando risada abertamente e eu olhei em volta,  e vi que em todas as casas havia gente nas varandas e nas janelas, todos rindo da minha incompetência para abrir a torneira... Eu ri também, até que veio uma outra senhora em meu socorro e num instante a torneira estava com um belo esguicho. Eu me lavei atrás e caprichei  um pouco mais na frente. Afinal não é sempre que a gente tem plateia na hora do banho... acabei, lavei as sandálias,  agradeci muito e me retirei, carregando desajeitadamente, a minha sacola, as roupas e as sandálias.
                         Quando cheguei nas pedras da subida para a viela, a professora perguntou se eu não ia vestir as roupas. Eu disse que sim, estava só esperando  secar um pouco... e assim que chegamos à   primeira sombra, vesti tudo, calcei as sandálias e acabamos de subir a viela, andando pela favela.
                         Os sacos pretos de lixo já estavam lá em cima. Não sei como foram parar lá, nem perguntei. Mas a professora queria fotos. Então fizemos pose em volta da pilha de sacos. Estava registrado o feito.
                         Logo passou o caminhãozinho e voltamos parando novamente nas  praias para recolher os alunos.  Nas outras praias, eles tiveram ajuda do povo.  Voltamos  todos exaustos e encalorados.
                         Assim foi o "cleaning the beaches".

                                                                           ***

                        Desses eventos, eu conclui que para a  RVA é importante registrar o feito. Fazer bem feito é secundário.
                         A medalha que o país ganhou no ano passado fica no salão, junto com um diploma concedido a St. Vincent and Grenadines. Mas quem foi até a Helzinki receber a medalha foi a diretora da RVA e o diploma está aqui, e não no Palácio do Governo.
                         Eu vejo como os diretores estufam o peito quando falam da escola ou quando a mostram para os hóspedes!
                         O serviço não é importante, o que importa é mostrar o serviço. Mesmo porque, o que eu vi até agora deixa claro que eles não sabem trabalhar com o povo. E considerando que já estão aqui há vários anos, seria burrice?
                        Ou será que não querem? Se adotamos a segunda hipótese, a pergunta é: Por que? Qual seria a intenção oculta? Só a vontade de aparecer bem na fita? Vaidade?
                         Por enquanto, duas opções:  burrice ou vaidade?
                         Vou continuar pesquisando, pra saber se há uma terceira hipótese.

                         Voce já pode dizer eu li na tela da
                                                                                 Eulina


                         Amigos estão mandando emails para lilinacintra@hotmail.com, me aconselhando a voltar. Eu quero ainda conhecer outras ilhas e ver como vão  acontecer as aulas e o plantio das árvores. Preciso das opiniões de voces para fazer as coisas certas. Por favor, me ajudem.
























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