quinta-feira, 10 de setembro de 2015

 




                                       PROGRAMA/ AGENDA/HORÁRIO


                    A missão é salvar o mundo do capitalismo, da poluição, da globalização, do aquecimento global, da pobreza. Foi isso que aprendi nesse dois meses de curso. Aprendi? Sei lá, esse foi o assunto do curso.
                    As aulas de fim de mundo, as aulas com os cavalos, na horta, as atividades, as tarefas a serem executadas pelo computador, os horários, as agendas, tudo está contido no programa. E o programa foi planejado para fornecer todas as respostas. Todas as questões são exaustivamente discutidas em  assembléias nas quais somos "democraticamente" orientados pelos professores e cujas votações são sempre acatadas, mas nesse dois meses, não vi serem colocadas em prática.
                    Então é assim: o mundo está acabando e é preciso fazer alguma coisa. E parece que eles acham que a única coisa a fazer é  estudar as matérias do curso, planejar uma ação, colocar tudo isso numa  agenda (schedule), com metas datas e horários rígidos e definidos. Eles parecem acreditar  profundamente nisso!
                    Eu também acredito que o mundo está acabando e que é preciso impedir isso! Mas eu acho também que existem muitas coisas que podem ser feitas e existem muitas maneiras de fazê-las.
                    Além disso, eu preciso ser livre. A schedule, o programa, os documentários, tudo isso me faz sentir como se estivesse presa, me dá sono.  Dormi nas aulas muitas vezes. E não é só um problema meu, porque sou velhinha! Vejo muitos alunos, todos jovens, lutando contra o sono durante os documentários sobre o lixo, a matança de animais, a destruição das florestas, etc. Talvez seja porque na minha turma, a maioria seja de latino americanos. Os europeus e a chinesa não dormem. Prestam atenção o tempo todo. Incrível.
                    Toda segunda feira, temos um "meeting" para resolver "democraticamente" a schedule da semana seguinte. Então, projetam no telão, um grande quadro quadriculado, com horários pra tudo, e tarefas dentro dos horários. Me dá pânico!
                   Eu nunca entendo nada, estou sempre esperando alguem começar a fazer alguma coisa, pra eu saber o que vai acontecer em seguida. Sou a própria Maria vai com as outras... até agora, tem dado certo. É uma vida cheia de emoções, mas enche o saco! Se estou na horta plantando sementinhas e acabo, não posso voltar pro meu quarto enquanto não acaba o horário da horta. E se ainda tenho sementes pra plantar e o horário acabou, não posso ficar mais, senão vou me atrasar para a próxima atividade. E a próxima atividade não começa se todos não chegaram, Então se um atrasa, todos atrasam. É a maneira "democrática" de impor uma ditadura do tempo.
                    E assim segue o dia, com todos os minutos ocupados. Mas depois das quatro horas, tem a praia!
                    Eles, os diretores e os professores os alunos  europeus e os  asiáticos parecem acreditar que essa é a unica maneira de salvar o mundo. Eu tenho cá minhas dúvidas! Com tanto horário, eu não consigo nem salvar a minha pessoa. Estou sempre sem saber o que vai acontecer em seguida,..
                    Estou aguardando ansiosa o início dos trabalhos com a população pra testar a eficiência do curso.

                                                            A COISA CERTA

                    Numa coisa eu acho que eles acertam. Acertam muito. Não há nada melhor para o crescimento pessoal, do que conhecer e conviver com pessoas de diferentes países, idades,  línguas, culturas, todos fazendo a mesma coisa.
                   Estamos aqui confinados, longe de tudo, tendo que cuidar da horta, do jardim, do pomar, das galinhas dos cavalos, da limpeza, da manutenção do prédio... Fazemos tudo isso juntos. E ainda temos as aulas, os trabalhos escolares as tarefas no computador.,
                   É muito interessante ver como se comportam as pessoas, como são diferentes, as formas de agir e de resolver as questões... E mais interessante ainda é constatarmos que apesar das diferenças, somos todos iguais!
                   Por exemplo, depois de um dia de trabalho pesado na horta, todos se sentam no salão, exaustos e começam a rir e falar asneiras, da mesma forma que as recepcionistas do Salão do Automóvel faziam e (ainda devem fazer) depois de um dia inteiro fazendo pose na frente dos carros, ou os peregrinos do Caminho de Santiago, depois  de um dia caminhando, ou foliões depois de uma noite pulando no carnaval... Já passei por todas essas situações e sempre foi do mesmo jeito. Quando estão exaustas, as pessoas não fazem gênero. São o que são. E se o cansaço é resultado de uma boa jornada, as pessoas ficam bem humoradas e falando asneiras e dando risada.  Eu adoro essa hora!
                 E assim, vamos aprendendo a respeitar as diferenças, a ter paciência, com as dificuldades alheias,  a nos ajudar nos momentos mais difíceis, a rir nas horas engraçadas... ficamos todos amigos.
                 Cada um conta as coisas do seu país, com palavras de todas as línguas, fazendo mímica, usando o Google Translator, gesticulando... vale tudo. O importante é comunicar. E, na maioria das vezes, conseguimos!
                 É a melhor coisa que tem aqui!  Depois da praia, lógico.

                                                              O CAVALO

                 A diretora tem paixão por cavalos. São tres fêmeas e um macho, muito bem tratados, vivem soltos enfeitando os pastos. Ela diz que com os cavalos aprendemos a lidar com as pessoas. E por isso temos aulas com eles. Temos que superar o medo, exercitar a paciência, e exercer capacidade de liderança...  será?
                As aulas acontecem embaixo de uma grande árvore no jardim da frente, com uma vista magnífica para o mar do Caribe, com a ilha de Santa Lucia na linha do horizonte. Eu gosto das aulas. não tenho medo e parece que o macho gosta de mim. Ele faz direitinho tudo o que eu peço. atende aos meus comandos. Outro dia, eu estava no pasto e ele veio espontaneamente até mim e esfregou sua cabeça nas minhas pernas. Um dengo!
                     Pois bem. Há cerca de um mes, houve uma grande tempestade durante a noite, com muitos relâmpagos e trovoadas. No dia seguinte, uma das éguas estava com uma perna machucada. Provavelmente, assustou-se e se enroscou na cerca de arame farpado. Limparam o machucado e ela aparentou estar melhorando. Mas depois de umas duas semanas ainda não havia sarado e ela foi tendo outros sintomas, começou a tremer, seus olhos reviraram, então chamaram o veterinário e ele deu o diagnóstico: tétano. A diretora passou a viver em função da doença da égua. Isolou-a dos outros, e a cuidadora teve que dormir numa barraca, armada no canto do pasto, para que égua doente não ficasse sozinha. O veterinário disse que havia uma chance de trinta por cento, com um determinado remédio, que não havia em Kingstown.  Então, o marido da diretora foi até Barbados no vôo da manhã, comprou o remédio e voltou no vôo da tarde!
                   Para o cavalo havia dinheiro até para passagens de avião! E para a colombiana com leptopspirose não havia dinheiro para o taxi!  Indignação! Revolta!
                    De nada adiantou tanto esforço. Serviu apenas para prolongar o sofrimento da égua, que acabou morrendo na noite passada.
                    E querem nos ensinar a mudar o mundo!

                                                                        ***

                    Outro dia, eu estava na cozinha, após o jantar e entrou o professor vincentiano, pegou um chícara, foi até o bule de café e me pediu ... um dente de alho!  Meu Deus, eu achava que já se havia esgotado o repertório de esquisitices com a limonada apimentada, agora essa, café com alho!
                     Fui pegar. Trouxe o dente de alho e ele me pediu água fervendo. Ufa! Era pra fazer chá de alho! Uma esquisitice a menos.

                      Voce já pode dizer eu li na tela da
                                                                              Eulina
                               




















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