quarta-feira, 13 de março de 2013

Belém

                                



                                                                            BELÉM         
                                                                                   
                                                                                                                                       30/12/2013


     Quatro quilômetros antes de chegar, descemos do ônibus. Queremos chegar em Belém a  pé. Desta vez, caminhamos em silêncio. Estamos todos emocionados com a chegada. Afinal, completamos o percurso. 
    Para Maria e José deve ter sido muito mais difícil.  Eles não tinham carro de apoio, não passavam a noite dormindo em camas quentinhas, nem comiam comidas especialmente preparadas para eles... Eles só tinham um burrico.

      Belém é uma cidade grande, moderna. Chegamos por volta de meio dia e fomos direto ao Siraj Center (entidade palestina que organiza essas caminhadas). O escritório pequeno fica no segundo andar de um predinho. Para entrar, subimos um lance de escadas. Fomos recebidos por Michel, membro da diretoria. Muitos abraços, muitas confraternizações, muitos sorrisos. Eu propus que nos dessemos as mãos para agradecer a Deus a graça de termos chegado à nossa meta, sem nenhum contratempo e  dedicamos toda a nossa caminhada à Paz entre os povos.

     Depois de prometer que iremos divulgar tudo o que vimos, saímos de lá felizes, e fomos
dar uma volta pela cidade, com direito a  compras. Fomos almoçar num restaurante típico ( como se ainda não tivéssemos comido nada típico!), com  serviço de rodízio. Comida boa, nós nos empanturramos. Ao fim do almoço, Nidal chega e nos apresenta o nosso guia da cidade. Ficamos todos conversando um pouco. Eu vou ao toalete. Quando volto, Nidal não está mais. Ele se despediu de todos e deixou "um abraço" para mim. Seu trabalho como guia do deserto está encerrado. Diante do meu espanto, os italianos me explicam que ele tinha pressa, porque ia tomar um ônibus para voltar à sua cidade. Custo a crer! Se ele tinha pressa, por que não começou a se despedir antes?

     Quanta coincidência! De repente ele  se despede de todos, justo na minha ausência, e com tanta pressa, que não deu tempo de  esperar eu voltar do toalete!  Se foi proposital, eu fico pensando no tempo que ele gastou pensando em como fazer para não se despedir de mim... Que coisa! Que estrago pode fazer uma  cerveja...  descumprir uma ordem boba... Ah, não vale a pena ficar pensando nisso.

     O novo guia nos chama, o ônibus nos espera.  Belém é uma cidade grande e turística, cheia da lojinhas de badulaques. A grande atração é a Igreja da Natividade. Como sempre, em cima de um local onde aconteceram fatos importantes para os cristãos, construíram um igreja.  É pra lá que vamos, foi por isso que viemos.

     A Igreja fica ao fundo de uma grande praça. É bem grande, toda de pedra e pelo menos de frente, tem o aspecto de uma igreja católica convencional. É administrada por sacerdotes franciscanos. Entramos. O guia desanda a falar suas histórias. De início eu até me esforço para ouvir... mas não consigo. Ele fala tudo bem depressa, porque atrás ficam outros grupos com outros guias esperando para contar suas historias.

     Fico olhando em volta. É tudo de pedra, o interior é sombrio. A igreja está cheia de turistas, que se aglomeram em uma grande e tortuosa fila. Cada grupo com seu guia, todos falando, falando... Ai, que saco! E o pior é que não há alternativa. Ou ficamos na fila e conseguimos ver o local da Natividade, ou não vemos nada. A fila passa por um buraco que fica no chão, à esquerda, por onde se vê um pedaço da antiga igreja que existia neste local e que foi destruida em alguma das muitas guerras que o guia tenta relatar em meia hora.

      A fila anda, o guia fala. Não há a menor possibilidade de recolhimento ou elevação espiritual pelo menos, pra mim. O guia conta que nas noites de Natal, vêm turistas do mundo todo. Participam de uma procissão e depois assistem à missa... Credo!  Imagino a balbúrdia! Ainda bem que não consegui vir a tempo de chegar na noite de Natal!  Comento com os italianos, eles concordam comigo.

      Ao lado direito do altar, na sacristia, há um balcão onde se vendem coisas. A fila passa por lá. Eu compro um quadrinho com a cena do presépio. Logo em seguida à esquerda, há uma porta, e depois de alguns degraus, começam as cavernas. Esta igreja também entra dentro da montanha. Entramos. Quando digo entramos, não estou me referindo a uma ou duas pessoas. É o grupo inteiro, que estava na fila. E não é só este grupo. Todos os que estavam no começo da fila entram na primeira caverna, que não é grande. Ficamos aglomerados, falando baixinho e bufando num lugarzinho apertado, enquanto os guias dos vários grupos baixam o tom da voz e vão ficando em silêncio. Andamos com as cabeças rodando, para ver todas as paredes da caverna onde estamos, e vamos indo em direção a mais alguns degraus, até que chegamos em outra caverna.

     Então se dá o encanto. Todos silenciam. Estamos no lugar onde Jesus nasceu!  Dá pra sentir a vibração no ar! Do lado direito, numa reentrância maior na parede de pedra, existe uma grande uma estrela dourada encrustrada no chão. Dizem ser o primeiro lugar na terra tocado por Jesus. O lugar é pequeno e apertado, mas todos se aproximam, um a um e se ajoelham. Passam a mão na estrela e rezam em silêncio. Eu faço o mesmo.
     Parodiando Roberto Carlos, eu canto em silêncio: "Jesus Cristo, Jesus Cristo, eu estou aqui." Foi pra isso que vim. Foi pra isso que atravessei o deserto. Finalmente, a emoção, coração disparado, água nos olhos. Sim, eu estou aqui! Foi aqui que Maria pariu!

     Do outro lado dessa caverna, noutra pequena reentrância, fica o local da manjedoura. Lá o Menino ficou, envolto em panos.
     Mas é difícil manter o encanto, dentro desse lugar tão pequeno e tão aglomerado de gente. Logo começo a pensar. A vaca e o burrico não cabem neste lugar onde Jesus nasceu. Provavelmente, depois do parto, Maria o colocou na manjedoura e só então ele foi aquecido pelos animais. Eu fiquei imaginando Maria dando a luz. Será que José estava perto? Como será que ele cortou o cordão? E como fez para limpar  tudo, depois que nasceu a placenta? Ai! Será que é pecado pensar essas coisas? Sei lá! Acho que o mais importante não é o jeito que Jesus nasceu, mas sim o que ele ensinou, a vida que levou, o exemplo que deixou. Essa último pensamento me reconforta e eu saio desta caverna. Ainda há outra caverna, menor, mais escura e surpreendentemente, quase vazia. Passo por lá e já estou aflita para sair. Quero sol!

    Saio depressa e vou para o jardim, onde fico esperando pelos italianos, respirando aliviada. Foi uma decepção? Não sei. O encantamento ocorreu, mas foi só por instantes! E a única coisa que pude fazer, foi lembrar da canção do Roberto Carlos...Logo o ônibus chega e vai nos nos levar para Jerusalém. 
   
    Como será Jerusalém?

     Voce já pode dizer: Eu li na tela da
                                                              Eulina
   
   
   
   

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