quarta-feira, 6 de março de 2013

Jericó - Belém

          
                                                                                        

                                                            JERICÓ -  BELÉM


                                                                                                                                    30/12/12

     Hoje caminharemos até Belém!

     Logo depois do lauto café da manhã, no enorme salão do Resort em Jericó, empilhamos as malas na portaria do hotel. Quando chegou o ônibus, Nidal começa a colocar as malas no bagageiro. Ele está nessa função, quando eu chego:
     -Good morning, Nidal!
     Silêncio. Eu tento de novo:
     - Good morning, Nidal!
     Desta vez, não houve silêncio. Ele começa a falar na língua dele, com o motorista do ônibus.  Será que ele não quer falar comigo? Estou esperando ele parar de falar para tentar novamente, mas ele continuou falando e saiu de perto.  Pôxa! Acho que a cerveja que tomei, fez um estrago maior do que pensei.
     Ah! Deixa pra lá.

     O ônibus parte com nossas malas e nós partimos a pé atrás de Nidal. O percurso  hoje é mais curto, estamos no último trecho da caminhada, vamos almoçar em Belém.
     Andamos agora, por montanhas, mais altas,  mais áridas e mais bonitas.  Mas não é muito difícil, porque existe um caminho, não é preciso andar no meio do campo, ou no leito seco de rios. Andamos felizes, subindo as montanhas, em fila indiana. Vemos precipícios no lado esquerdo do caminho e lá em baixo correm riachos. Vimos até um rato do deserto. Ele não tem medo. Fica paradinho nos olhando, da mesma forma que ficamos olhando para ele. A paisagem portentosa,  montanhas,  vales,  céu muito azul,  pássaros, tudo me faz pensar na eternidade... Passamos por mosteiros construidos nas cavernas, então, só vemos a fachada, as instalações do mosteiro ficam dentro da montanha. É estranhamente belo, enxergar a montanha, com uma fachada de mosteiro numa das encostas.

     Tento conversar com Nidal, perguntar coisas, mas ele age como se eu não existisse. Toda vez que eu me aproximo, ele começa a falar com outra pessoa. Que coisa! Mas alguém  perguntou e ele explicou que nesses mosteiros vivem monges que fizeram voto de solidão... não sei se é assim que se chama, mas eles não tem nenhum contato com outras pessoas. Vivem isolados nas montanhas, comem o que plantam. Alguns monastérios são cristãos ortodoxos e outros católicos. Eu estou fervilhando de perguntas a fazer, mas estou sem jeito de falar com Nidal novamente.

     Comento com Giacomo a atitude de Nidal e ele fica espantado, mas diz que pode ser uma coincidência, que ele pode não ter me ouvido. Eu fico sem saber se concordo ou não. E assim fomos andando, em fila indiana, todos extasiados com a beleza do lugar. A subida vai se tornando mais e mais íngreme, até que chegamos a um desses mosteiros nas cavernas.

     Há um grande portão de ferro e um caminho de pedras até a porta de entrada. O portão e a porta estão abertos. Não há ninguem à vista. Nidal diz que é assim mesmo, que esse monastério é ortodoxo e dedicado a São Jorge..
      Entramos numa sala comprida, toda de pedra, com uma parede aberta para o vale entre as montanhas. Deslumbrante! No meio da sala está uma mesa, com um bule bem grande cheio de café, uma vasilha com biscoitinhos, e uma jarra com água fresca. Há copinhos para o café e copos maiores para a água. Mais ao fundo, depois de atravessar um corredor, ficam os banheiros, limpíssimos. Segundo Nidal, fica tudo sempre a disposição de peregrinos.

     Depois de ir ao banheiro, tomar água, café e comer biscoitinhos, vamos explorar o local. Entramos por uma porta á direita, e estamos numa capela, cheia de estátuas e pinturas de São Jorge, com dragão e tudo! Eu até rezei para o Corinthias!  É tudo muito bonito, de grande qualidade artística. Nessa capela.há uma porta que dá num pequeno museu. Vou andando e observando as relíquias de São Jorge, painéis com a história dele em latim, quadros e objetos. Sigo olhando, até que vejo os italianos, no fundo da sala, cheio de exclamações: Mamma mia, Cáspita, e outras mais que não sei reproduzir. Vou lá ver e fico boquiaberta!

     É a múmia de São Jorge! Eu nunca tinha visto uma múmia antes! É horroroso! Uma pessoa inteirinha preta, bem magrinha, com a boca aberta, cheia de dentes enormes, toda vestida com um traje de guerreiro da época, de seda (pelo menos me pareceu seda) vermelha, com bordados dourados. Das mangas largas saem braços bem fininhos, pulsos e mãos esquálidas com dedos compridos e unhas que parecem garras. A cena me causou uma impressão horrível, acho que se eu fosse criança ia chorar de medo. Deu vontade de chorar, mesmo sendo adulta.

     Olhei um pouco... pra que serve mumificar uma pessoa? Sei lá, os faraós queriam ser eternos... então mumificavam seus corpos. Mas um santo cristão? Ele já não tem uma alma eterna? Salve Jorge!

     Saio logo desse museu e fico na sala aberta para as montanhas. Depois do susto e do medo da múmia, esta sala com sua vista esplendorosa me dá uma grande sensação de paz. Na hora de ir embora, chegam dois monges. Todos agradecemos a acolhida (em inglês) e eu peço a êles que rezem por nós.

     Na saída, Nidal  reúne todos para dar alguma explicação e eu aproveito que estão todos ouvindo, e faço uma pergunta. Não me lembro qual foi a pergunta e nem qual foi a resposta, mas me lembro de que Nidal respondeu. Foi breve, foi uma resposta curta, mas respondeu. Creio que por falta de alternativa, afinal não ia ficar bem ele não me responder na frente de todos.

     Novamente a caminho, vamos agora para um mosteiro muçulmano. Vamos descendo, agora. Somos seguidos por um homem, com pano estilo Arafat na cabeça, levando um burrico. Ele fica oferecendo a descida no burrico. Nidal diz para não aceitarmos, porque depois ele vai cobrar caro. Mas o cara não desiste. Eu olho bem, porque parece cena de filme. Aquele cara, com as vestes de algodão, bem simples, o pano na cabeça, levando o burrico, poderia ter saido do filme "Ben Hur" ou os "Dez Mandamentos". Ele vê que eu o olho muito e acha que eu estou com vontade de montar no burrico. Eu até tive mesmo vontade de montar, mas não me atrevi a descumprir outra ordem de Nidal. O homem ouve os italianos me chamarem de Lina e passa a me chamar também. E lá fomos nós, andando em fila indiana, com o cara atrás, chamando meu nome toda hora. Foi bem chato.

   E vamos assim, até uma espécie de praça, onde ficam os ônibus de turistas e lá estão vários homens vestidos da mesma forma, com o pano Arafat na cabeça, cada um com seu burrico. Essa praça fica na beira de uma estrada bem grande, asfaltada.  Entramos no nosso ônibus  e começamos a subir outra montanha. Subida muito acentuada. Montanha bem alta.

     Algum tempo depois, chegamos a um mosteiro muçulmano. Acho que o nome é Mar Sabat. Descemos do ônibus e os homens entram no mosteiro, enquanto nós mulheres ficamos no jardim, em frente ao portão. Só podemos ver o portão e os muros. Que merda!
     O monge que fica na porta traz suco de romã pras mulheres. Simpático.

     Aproximadamente meia hora mais tarde, os homens voltam. Falam, falam contando o que viram e pelo que entendi do italiano, dizem que este templo muçulmano não tem muita diferença dos outros  pelos quais passamos. Grande coisa, nós mulheres não entramos em nenhum. Mas, pelo pouco que pude ver do lado de fora, os templos muçulmanos tem um grande salão, onde os homens colocam seu tapetinho para rezar. Não tem mesmo muita graça, pelo menos aqueles que espiei curiosamente do lado de fora, sob os olhares apreensivos de todos os homens que estavam perto.  Essa é outra coisa que eu das quais vou ficar curiosa para sempre. Como as mulheres rezam? Por que as mulheres rezam diferente dos homens?

     Descemos até chegar ao local onde ficou o ônibus. Só que desta vez, não entramos nele. Queremos chegar a pé em Belém.

     Voce já pode dizer: Eu li na tela da
                                                                Eulina

2 comentários:

  1. Eulina do céu! Que delícia acompanhar essa viagem... mas e o Nidal?!!! Continue, continue - aposto que isso não ficou por isso mesmo!
    Beijos e saudades!

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  2. Oi, Ana!
    Eu vou continuar, não se preocupe, mas já está acabando...
    Como voce faz para comentar? Eu tenho tantas recalamações de gente que quer comentar e não consegue! Voce conhece algum técnico de computadores que sabe consertar este blog, deixá-lo de forma que todos possam comentar?
    Devolvo os beijos e as saudades
    Maria Eulina

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