quarta-feira, 20 de março de 2013

Jerusalém

                                                         


                                                           BELÉM - JERUSALÉM


                                                                                                                                30/12/12

     Vamos de ônibus para Jerusalém. Mais um check point. Desta vez, entraremos definitivamente em Israel. Silêncio no ônibus. Passaporte na mão, estamos todos preparados para descer e responder perguntas, talvez passar por uma revista. Italianos em  um silêncio apreensivo e obedecendo as instruções de Nidal, com as máquinas fotográficas guardadas dentro das mochilas. Uma soldada nos recebe. Suspense... porém, para nossa surpresa, não precisamos descer! Ela nem entra no ônibus! Olha para as nossas caras pelas janelas, mesmo. Acho que concluiu que somos inofensivos, pois nos liberou rapidinho. Assim, sem nenhuma formalidade, sem perguntas, sem revistas, nem carimbos. O ônibus pôde partir. É a última vez que enfrentamos um check point. Ufa! Que alívio.

     Estrada muito congestionada. Parece a Marginal do rio Pinheiros. Anda, para, anda, para. Chegamos à periferia de Jerusalém. Muitas lojas, trânsito, trânsito, trânsito. Fico olhando as ruas de dentro do ônibus. Olho para o povo. Mulheres com roupas compridas e lenço na cabeça. Homens com gorro ou pano Arafat. Há também muita gente com roupas ocidentais, turistas e homens de sobretudo preto, chapéu de abas largas e cabelo com cachinhos de mola. São os judeus.

     As lojas são pequenas e cheias de coisas dependuradas, tipo Vinte e Cinco de Março ou José Paulino. Muitos mercadinhos, com frutas e verduras expostas. Camelôs em barracas vendem faláfel, suco de romã e tâmaras. Muitos sons, muitos cheiros, muita gente. Não parecem muito amigáveis.

     Chegamos ao hotel. Fico sozinha num quarto. Não tenho com quem conversar. Saudade da Andrea. Amanhã conheceremos a cidade.



                                                                 JERUSALÉM I

                                                                                                                                31/12/12

     Como sempre, temos um guia urbano: Salim.  É chato. Talvez, o mais chato de todos.
     Jerusalém são duas cidades. A moderna, grande que eu já vi parte ontem e a antiga, cercada de muros e inteiramente dentro da outra. O guia nos leva à cidade antiga, falando muito, dizendo obviedades, num inglês quase ininteligível. Constatamos que a aparência é semelhante a das cidades palestinas. A mesma confusão, porém aumentada mil vezes!

      Ruas estreitas, vielas, ladeiras, escadas, pontes, pracinhas, tudo apinhado de gente e de coisas. Um labirinto! Estamos numa rua, subimos uma escada e chegamos ao quintal de uma casa, descemos outra escada e saímos dentro de uma loja! Andamos mais um pouco e agora, estamos numa igreja, logo depois uma praça, outra igreja, uma mesquita, uma sinagoga, muitas lojas, uma atrás da outra, camelôs gritando suas mercadorias, toldos cobrindo as calçadas, ou telhados construídos entre um lado e outro da rua, uma loucura, esse trajeto!

     O guia nos leva pela Via Dolorosa. Há igrejas católicas em todos os pontos: onde Jesus foi preso, onde foi julgado, onde foi coroado com espinhos, onde cai, carregando a cruz, onde Maria Madalena enxugou seu rosto... É muito, muito triste. E  todas as ruas são cheias de lojinhas vendendo de um tudo. Vendedores assediando os turistas aos berros, empurrando suas mercadorias. Eu vou andando, sem conseguir prestar atenção no guia, passo a mão em todos os locais onde dizem que Jesus passou. As pedras desses lugares estão gastas de tantas  passadas de mão. O pior pedaço é o da Igreja da Crucificação. Eu me sinto mal, tenho taquicardia, nó na garganta, falta de ar, pressão baixa... Eu me sento em um banco de igreja e acho que vou desmaiar. Porém, passados alguns momentos, respiro fundo e consigo me recuperar.

     A minha paciência para grupos e guias turísticos acabou. Não ouço mais o que o guia diz. Tenho a impressão de que os italianos também não estão gostando.

     Quanto a mim, prefiro a estrada. Passo a passo, podemos conversar com o guia, perguntar coisas, fugir da história decorada. Sentir o chão, olhar a paisagem, respirar o ar, ver tudo. Gosto de andar por um país, em lugares onde  não há turistas nem lojinhas. Não gosto de ouvir histórias de guias.

     Penso em Cristo. Ele sofreu muito nesta cidade. Porém, se viesse hoje, sofreria muito mais. Veria tantas igrejas, templos, sinagogas, mesquitas... todas as religiões, todos os locais sagrados ocupados por vendedores de bugigangas. Acho que não só Cristo sofreria, Maomé, Moisés e Alah também seriam infelizes aqui.

     Depois da Via Dolorosa, o guia nos levou a  outras igrejas todas com sacristias cheias de "lembrancinhas" e a uma loja grande. Fiquei achando que ele teria comissão nas vendas. Não comprei nada. Que saco!

     Voltamos exaustos para o hotel. Definitivamente, andar subindo e descendo de montanhas no deserto cansa muito menos do que andar atrás do guia em Jerusalém.

     Hoje é aniversário de minha filha Susana. Tento ligar pra ela várias vezes, mas a ligação não se completa.  Como é o último dia do ano, temos um jantar especial, no hotel. Foi uma festa, todos felizes, em clima de confraternização. Gianfranco me empresta seu celular e a ligação se completa. Todos nós cantamos parabéns em inglês, para Susi, foi lindo! Temos vontade de ver a festa de Ano Novo em Jerusalém, mas estamos tão cansados, que Silverio sugere começar uma contagem regressiva simbólica, às dez horas. Nós concordamos: 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1... abrimos um vinho espumante e... Alguri! Felicità! Happy New Year! Feliz ano novo!  Muitos abraços, beijos e brindes!   Às dez e meia, já estamos dormindo o sono pesado dos peregrinos cansados.
     Dizem que houve queima de fogos, um barulhão. Eu não ouvi nada. 


                                                             JERUSALÉM II

                                                                                                                       1/1/13

     Hoje, temos o dia livre. Como ninguém é fanático por compras, decidimos passear um pouco pela cidade antiga e depois conhecer a cidade moderna. 

     Andar pelos labirintos da cidade antiga, sem o guia é bem melhor. Andamos por vielas e becos indescritíveis, vimos um galinheiro, no quintal de uma casa. Nos disseram que é uma clausura (não sei se é esse o nome) de monges. Não deu pra ver os monges, mas olhando pelas frestas de uma parede, dava pra ver as roupas marrons dependuradas (acho que vimos uma espécie de vestiário), na frente de um banheiro.

     Subimos e descemos escadas largas, bonitas de mármore, estreitas e feiosas de tijolos, algumas de pedras, andamos por  todos os tipos de ruas, becos, pracinhas, praçonas, ruas com escritórios, ruas com restaurantes, ruas com casas de família, apartamentos, hotéis, pensões, etc. Às vezes, parávamos maravilhados diante de alguma obra de arte, às vezes diante de um saboroso suco de romã. Fomos caminhando até uma grande praça, onde fica o Muro das Lamentações.

      O muro tem lugares separados. De quem olha de frente, mulheres se lamentam do lado direito e homens se lamentam do lado esquerdo. E se lamentam mesmo. Todos os judeus de preto, tanto homens como mulheres, alguns com um livrinho de oração. Eles ficam em pé, balançando o corpo para frente e para trás, rezando na língua deles. Parece que choram. O livrinho de orações também tem a capa preta. Já os turistas, são coloridos, vem de todos os lugares do mundo. Alguns, como os africanos vestem belos panos com estampas floridas de cores vivas. Aliás, eu não contei antes, mas há muitos grupos de turistas africanos em Belém e Jerusalém. Um espanto!

     Eu me posiciono do lado esquerdo e me aproximo da multidão que está perto do muro. Quando chegam perto, as mulheres encostam a cabeça. Às vezes, ficam batendo com a cabeça no muro. E sempre trazem um papelzinho com seus pedidos para enfiar numa fresta por entre os tijolos. Eu fico ali, esperando pacientemente minha vez de encostar a cabeça e enfiar o meu papelzinho. Quando chego na  frente, procuro um lugar, nos vãozinhos entulhados de papéis. Tá difícil. Ando um pouco pra esquerda, pra direita... é ali. Um diminuto buraquinho, bem pequenininho, mas com mais uma dobradinha, o meu papel entra no vão. Enquanto estou empurrando o meu pedido, olho um pouquinho à direita e vejo um papelzinho grudado ao muro, com chiclete. Dei risada.

     Depois, saímos dos muros e fomos caminhar pela cidade moderna. Ruas largas, arborizadas, praças,  jardins, tudo como em cidades ocidentais. Fomos ao bairro mais rico. Entramos num shopping center. Luxo, lojas de grife: Dior, Gucci, Prada, etc. As mulheres vestem roupas ocidentais e não cobrem os cabelos (dizem que usam perucas). Os homens vestem preto. Penso que esse local  é frequentado só por judeus ricos.

      Andamos mais, por uma avenida onde passa um trem e chegamos ao bairro judeu mais tradicional. É inacreditável! Homens de terno e casacões pretos, chapéu de abas, e longos cabelos presos, com os cachos de molinhas cobrindo as orelhas. Alguns, com barba. Todos! Todinhos assim! E são muitos, as ruas são cheias de gente! As mulheres, também de preto, as vezes cobrem a cabeça. Será que as que não cobrem estão de peruca?  Mas o mais impressionante é que todos  são sérios. Não vejo nenhum sorriso. Até as poucas crianças, que encontramos, são sérias. Meninas de longas saias e longas tranças. E meninos de calças curtas e pernas finas e brancas, todos vestidos de cores escuras, ou preto total. Um único carrinho de bebê, com um cobertorzinho negro! É tudo muito triste. Silencioso. Baixo astral. As pessoas nos olham muito. Chamamos muita atenção, com nossas roupas coloridas. Mas os olhares não são amigáveis. Não nos dirigem a palavra, e não nos sentimos bem vindos.

     Continuamos a caminhar e a paisagem vai mudando. Começam  a aparecer mulheres de lenço na cabeça, homens com pano Arafat. As ruas vão se estreitando e as lojas tem mercadorias dependuradas no teto. As coisas vão mudando pouco a pouco, até que estamos novamente no meio da total confusão dos bairros muçulmanos, cheios de camelôs, mercadinhos, sucos de romã, tâmaras e gente barulhenta.
     Chegamos mais cedo ao hotel. Hoje é o último dia dos italianos e eles tem que arrumar as malas.

     Voce já pode dizer: Eu li na tela da
                                                             Eulina
   

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