terça-feira, 11 de agosto de 2015





                                                    ALGUMA COISA ERRADA...


                    Em março, quando estive aqui pela primeira vez, fui a uma reunião com a população local. O assunto era GMO Food (comida geneticamente modificada). Perguntei se a população sabia o que era. Disseram que iam explicar. Desconfiei. As explicações que ouvi aqui, são muito complicadas, será que o povo ia entender?
                    Fomos até um povoado próximo, levamos o projetor e"power point" arrumamos uma sala na escola, e ficamos esperando o povo chegar. Depois de meia hora de espera, eu perguntei a que horas tinham marcado... e me responderam que não tinham marcado! Como assim não marcaram? E como querem que o povo apareça? Disseram que o povo ia ver o movimento e entrar. Esperamos por mais meia hora. Oito pessoas viram o movimento e entraram. Cinco adultos e três crianças e um bebê, que ficou mamando durante a apresentação.
                   Então resolveram começar. Projetaram gens e fórmulas. Explicaram a mutação dos gens e contaram porque as sementes da Monsanto não se reproduzem, obrigando todos a comprarem novas sementes, toda vez que quiserem uma nova planta. Falaram que estamos todos correndo o risco de ter nossos gens modificados também. Por fim, disseram que não devemos comer as comidas vendidas em supermercados, mas sim plantar e comer a comida orgânica.
                   Olhei as pessoas. A mãe amamentava, as crianças pulavam inquietas em torno das cadeiras, acho que dois adultos prestaram atenção enquanto os outros dormiam.

                                                                   ***

                   Outro dia, era o "kid's day". Nesse dia, todos os estudantes vão a escola de Chateaubelair fazer atividades com as crianças. Muitos preparativos. Lápis de cor, papel, tesoura para recortar, bolas... e muita disposição. Brincar com crianças todos querem.
                    Mas, amanheceu chovendo. Não uma chuvinha, daquelas com arco íris que passa logo, Chuva forte, pesada que molha muito e quando para um pouco, não para de vez, sobra sempre uma garoa. Depois chove novamente.
                   Pra tudo tem reunião, então teve reunião pra discutir se vamos com chuva, ou não, já que o lugar das brincadeiras é ao ar livre. Bla, bla, bla, a maioria foi contra, mas bla.bla.bla, a escola assumiu o compromisso, vai ficar feio se ningém for, as crianças vão ficar esperando, bla bla bla, quem quer vai, quem não quer fica. Enfim. Eu fiquei. A chinesinha também. As crianças não são estúpidas, ela disse. Vão entender que as pessoas não vão por causa da chuva. Eu também acho, loucura insistir em brincadeiras ao ar livre com esta chuva!
                   Mas eles foram . Quase todos. Ficamos a chinesa, eu e mais dois alunos. Suportamos os olhares de reprovação. Fui para o meu quarto, gozar da manhã de folga, Passados uns quarenta minutos, eles voltam. As crianças não estavam lá.
                    Então, os marmanjos jogaram um pouco de voleibol na chuva e depois voltaram, desapontados. Bem que a chinesa disse: As crianças não são estúpidas.
                    Foi difícil não lançar olhares de "eu não disse?".

                                                                         ***

                   Dia primeiro de agosto, foi a festa da independência, ocasião em que é celebrada a colheita da fruta pão. Os alunos do curso de luta contra a pobreza, planejaram empoderar as mulheres que vendem algum produto de artesanato, comida, roupas, bordados, etc., então, resolveram fazer cartazes, distribuir panfletos, estimulando as compras no comércio local. Soubemos que a festa iria começar às três horas da tarde. Eu estranhei, porque é hora do maior solão. Suadouro, na certa.
                    Não havia carro para nos levar. Fomos a pé, logo depois do almoço, carregando os cartazes. Uma hora de caminhada, derretendo ao sol do Caribe. Ainda bem que a maior parte da estrada fica debaixo de árvores. Mas mesmo assim... chegamos, pouco antes das tres. No local, ninguém. Os cartazes foram pregados nas colunas e foi utilizada uma mesa para colocar os panfletos.
Ficamos aguardando as mulheres. Veio uma, que vendia shampoo e cremes industrializados. E mais tarde veio um homem, vendendo algo parecido um pastel.
                      Ficamos até às quatro e meia derretendo os miolos no sol. Nadhia e eu fomos até um boteco, tomar água gelada e encontramos uma mulher que foi cozinheira na RVA. Eu perguntei a ela sobre a festa e ela disse que talvez fosse depois das cinco horas. Eu penso com meus botões: ninguém é estúpido suficiente para marcar um evento, às três horas da tarde, debaixo de um sol de mais de quarenta graus!
                      As meninas voltaram à noite e a festa estava super animada.

                                                                   ***

                    Depois, eu encontro o homem que tem ciume e não sabe do quê e chama a montanha do vulcão de "minha montanha".
                    Eu soube de uma palestra que a diretora foi dar, em Kingstown  na qual compareceram tres vincentianos.
                    Uma das colombianas passou muito mal. O engenheiro a levou para o hospital, o professor e as outras colombianas também foram. Passamos o dia sem aula. Os diretores não tocaram no assunto, conversaram sobre amenidades na hora do almoço. Depois da janta, eu perguntei se havia notícias dela, para uma das diretoras e ela disse:
                    - Why do you ask me?
                    - Because she is very sick in a hospital!
                    - I didn't know! Nobody told me. So, ask to another person. - e continuou a escrever no computador, como se nada tivesse acontecido! Coração de pedra!

                                                                    ***
             
                     Passo a observar mais o comportamento dos vincentianos em relação a nós. Parecem sempre desconfiados.
                    Afinal, a sua história é plena de episódios em que chegaram pessoas vindas de outras terras acabaram por destruir suas tradições, seus costumes, suas religiões, sua identidade.
                    Não é uma afirmação. é ainda uma impressão, mas parece mesmo que, como dizia Shakspeare, "há. qualquer coisa de podre no reino da Dinamarca".

                   
                    Você já pode dizer eu li na tela da
                                                                         Eulina
                 


                 















6 comentários:

  1. Nooooosssssssssaaaaaaaa!!!!! Que bagunça, não sei como você aguenta, eu já teria reclamado e se não melhorasse arrumava minha mala e mandava para outra freguesia, tá doido seu!!!!

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  2. Parece que neste seu retorno nada é tāo azul como você estava vendo.O sol deve derreter qualquer iniciativa.

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  3. Parece que neste seu retorno nada é tāo azul como você estava vendo.O sol deve derreter qualquer iniciativa.

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  4. People bring themselves to the Vegan philosophy as they bring themselves to the a NGO in the Caribean. I fill after reading yours writings that the world is one and people are the same wathever the place, philosophy or beliefs they have.

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  5. E a impressão que fica é a de "to help you, in spite of you..."

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  6. Maria Eulina,

    Foge desta bagunça!!! Uma mulher de sua idade não merece passar por tudo o que está passado. Agora, cá entre nós, esta ONG, ou qualquer coisa semelhante, deve rolar muito $$$$ e alguém deve estar levando vantagem, porque pelo que você fala eles não fazem nada de útil. Leptospirose é uma doença provocada pela urina de rato, eles mereceriam um belo de um processo por falta de higiene.

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