segunda-feira, 26 de setembro de 2022

 

                                                                             AULAS       


Aulas de inglês. Como a principal fonte de renda e trabalho desta cidade é o turismo e os turistas são na sua maior parte provenientes de países de língua inglesa, é importante aprender inglês. Abre-se um grande nicho de empregos. Hotéis, lojas, guias turísticos. Então, visando a inclusão social das crianças oriundas de famílias vulneráveis, o projeto Lwandi Surf decidiu ministrar aulas de inglês para seus alunos. Eles adotam um livro aprovado pela ONU. Cada criança tem o seu livro. Eles aprendem o básico. Suficiente para se comunicarem com estrangeiros. 

Eles fazem os exercícios a lápis. Assim, quando terminam o curso, outro aluno pode apagar o que está escrito e fazer o exercício. Eu estava ajudando uma das meninas a fazer o exercício, quando vi que ela estava simplesmente escrevendo por cima da resposta anterior… chamei o professor:

- Assim não vale! Você tem que apagar e fazer o exercício. Não vale copiar!

Ela deu um sorriso malandro e pegou a borracha.                                                                            

A aula parece uma bagunça. Todos falam, riem, zoam uns dos outros, os professores tem que pedir silêncio, tudo parece uma grande brincadeira. Mas ao final, quando os professores  solicitam, todos respondem tudo o que foi ensinado. Eu fiquei espantada. Achava que eles não estavam prestando atenção, nem entendendo nada. Enfim, achei bem legal essa maneira tão descontraída de ensinar e aprender     

                                                                           ***

Fui convidada a fazer uma leitura do meu livro “O Sorriso do Macaco” em uma escolinha de crianças de cinco anos. Fiquei bem aflita, sem saber como fazer. Afinal, resolvi tirar xerox das páginas com exercícios e pausar a leitura depois de cada página para que as crianças fizessem o exercício. Deu certo. Eles ouviam com atenção, olhos sérios e se divertiram com as ilustrações, olhos risonhos. E depois se empenharam com afinco na tarefa de ajudar a coruja a consertar a bagunça do macaco!          

Depois a professora me disse que eles adoraram o macaco, quiseram dependurar os exercícios no quadro e mostram para os pais, todos orgulhosos! Que bom! Foi um sucesso! 

Minha filha Clarissa que ilustrou lindamente o livro, deve estar feliz, no céu. E minha outra filha Susana que fez a análise pedagógica pode ficar feliz também!  Afinal é o nosso livro fazendo sucesso internacional!

                                                                                ***    

Aula de dança. As meninas vão se apresentar em Maputo. Este é um ensaio da apresentação. O ensaio é feito num grande terreiro de areia, em frente a uma escola municipal. Enquanto a professora e a coreógrafa não chegam, as crianças brincam de roda! Aqui ainda existe isso! Cantam cantigas, sempre tem uma criança que fica dentro da roda e ao final escolhe outra criança, tudo do mesmo jeito que eu brincava na escola quando era criança, no Rio de Janeiro… Amei!

A professora e a coreógrafa chegam trazendo instrumentos de percussão e os “batuqueiros”. A coreógrafa, vestida aqueles panos lindos, faz alguns movimentos, ao som do batuque. Ela movimenta todas as juntas do corpo, sempre sorrindo, com muita graça. O remelexo africano. As meninas olham atentas. 

Elas já conhecem a coreografia. Ao comando da professora, formam duas filas. O batuque começa uma das meninas canta e as outras respondem. E elas vão dançando, fazendo rodas, fazendo pares, sem perder o ritmo! Muito lindo! Isto é… eu estava achando muito lindo, mas a professora queria mais!

-Não está bom! Do jeito que vocês estão fazendo, qualquer um faz! - ela deu uma olhadinha de relance para o meu lado e eu acho que ela pensou: qualquer branquela pode dançar assim… vocês tem que mexer os braços a mão, o pescoço, a cabeça e principalmente a cintura, os quadris! -  virou-se para a coreógrafa e disse - mostre a elas!

E a coreógrafa mostrou! Mexeu todos os ossos do seu corpo! Rebolou como como nunca… ou como sempre? Mostrou tudo o que a sua cintura é capaz, e as ancas também. Lindo, lindo! As meninas observando atentas e eu quase dançando também. Parodiando a famosa canção brasileira, posso dizer:      “ “O que é que a moçambicana tem? Tem graça como ninguém!” 

Elas nascem com o ritmo e o rebolado no DNA e aperfeiçoam na escola.

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Leitura do livro O Sonho da Galinha. Escrevi o livro pensando em crianças até dez ou onze anos. Agora, o desafio é ler o livro para adolescentes. Pensei, pensei e achei que seria apropriado falar sobre alegoria. Explicar como uma obra pode despertar pensamentos, sensações e emoções parecidas com as dos personagem, mas que acontecem ou já aconteceram na vida real. Expliquei tudo isso e comecei a ler. De tempos em tempos eu parei a leitura para perguntar o que tinha acontecido na vida deles que era parecido com o livro. Primeiro, o sonho… uma menina queria ser professora, outra veterinária, um menino queria uma bicicleta, outro queria ser um atleta do surf… Depois de ler as tentativas e fracassos da galinha, parei novamente… eles disseram da frustração de repetir o ano na escola, na dificuldade dos pais terem dinheiro…mas todos concordavam que o importante é não desistir, continuar tentando e acreditando que vai dar certo! No final, um dos meninos resumiu muito bem a história! Quase chorei de emoção. 

O professor deu uma lição de casa: escrever qual é o sonho e dizer três coisas que é preciso fazer para conseguir realizá-lo. Pena que eu não vou estar aqui para ver às redações.

                                                                                    ***

Agora só falta falar da leitura que vou fazer com os adolescentes, do livro O Sorriso do Macaco. Com as criancinhas de cinco anos, deu certo. Agora, com adolescentes, depois de pensar muito, e de ler com atenção a introdução feita pela minha filha Susana, decidi falar sobre a fantasia e a realidade. \a importância da imaginação e da realidade. E principalmente, do equilíbrio entre ambas, buscado pela coruja.  E vivenciar tudo isso, com o bom humor e o sorriso do macaco! Tomara que dê certo.


Você já pode dizer eu li na tela da Eulina.

Um comentário:

  1. Sem dúvida, Clarissa e Susana têm motivos e mais motivos para estarem felizes e orgulhosas. E você também, Eulina!

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