quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Dias 20 e 21 de dezembro




                                             VÉSPERA DO FIM DO MUNDO


      Na véspera do fim do mundo, inicia o meu voo rumo à Tel Aviv. Jantei ontem no clube, com o ex-marido, as filhas, o genro e o neto. Depois do jantar, Susi (a filha caçula),  me trouxe ao aeroporto. Cheguei em Cumbica, por volta de meia noite. O voo está marcado para as cinco horas do dia seguinte, e eu tinha que me apresentar para o check in às três. Cheguei com 3 horas de antecedência.
     Parece que em Buenos Aires o mundo já começou a acabar. Está acontecendo uma super tempestade e todos os voos que partiam de lá, atrasaram. Eu ia sair às cinco horas. Já são seis e meia e... nada. A Turkish Airlines distribuiu um lanchinho mequetrefe: um suco com gosto e cheiro de burro quando foge, um saquinho de batatas fritas, bem pequenininho e um bolinho de chocolate que eu não comi. Entrei na fila novamente.
     - Moça, eu ainda estou com fome, posso ganhar mais um saquinho de batatas?
     Chamaram para o embarque! Imediatamente, se forma uma fila enorme. Eu continuo sentada comendo minhas batatas. O auto falante anuncia:
    - Preferencia aos idosos, crianças e portadores de necessidades especiais!
     Que bom ser velhinha!
                                                                 ***
     Chego em Istambul, com quatro horas de atraso. Voo terrível, apertado, incômodo, comprido demais. Pelo horário do Brasil, saí de Sampa às nove da manhã do dia vinte e cheguei aqui às nove da noite. Doze horas de voo. No horário daqui, agora já é uma hora da manha, do dia vinte e um. Pelo menos aqui, o mundo ainda não acabou. No Brasil, ainda é ontem. Que coisa!
     Pra mim, o que acabou foi a reserva no hotel da Turkish Air Lines, que segundo o meu agente de viagem estava incluída no preço da passagem. A reserva é válida por duas horas. O voo atrasou quatro.
     Então, recapitulando, eu cheguei em Cumbica com três horas de adiantamento para o check in, mais duas horas entre o check in e o embarque, são cinco, mais quatro horas de atraso entre o embarque e o voo, são nove. Mais doze horas de voo, são vinte e uma horas em trânsito. Considerando que o voo para Tel Aviv parte amanhã às oito e meia e ainda é uma hora da manhã, tenho ainda sete horas e meia de aeroporto! Haja!
      Então, o que me resta é conhecer o aeroporto de Istambul. Olho pelas enormes paredes envidraçadas. Está nevando em Istambul! Como toda brasileira, fascinada pela neve, fico morrendo de vontade de sair e ver de perto, sentir a neve caindo! Procuro a saída. Ando, ando, subo e desço escadas rolantes e acho um fumódromo, que tem uma janela aberta. Chego perto. Parou de nevar. O que dá pra ver dessa janela é um pedaço de pista, com veículos manobrando. A neve não cai mais. Ando, ando novamente, para dentro do aeroporto, subo e desço escadas. Chego no free shopping. Grande, bonito com muitas lojas enfeitadas para o Natal. Existem cristãos na Turquia!
     Este aeroporto é enorme, bonito e tem gente dormindo pelo chão, em todos os ambientes. Daqui a pouco vai ter mais uma pessoa dormindo no chão: eu. Agora vou comer um lanche, descobrir em qual portão eu embarco e me deitar no chão, perto desse portão.
     Agora, já são três e meia, no horário daqui. Eu comi um sanduiche, tomei uma coca. Todos falam inglês e aceitam dólares, só que o troco é em dinheiro turco. Não sei o nome do dinheiro deles. Na moeda está escrito está escrito kurus, com uma esquisitíssima  cedilha no s. A outra moeda só tem aquelas letras.
    Como não tenho com quem conversar, escrevo tudo o que me acontece. Neste aeroporto, os bancos não tem braços, então dá pra  pegar três bancos e dormir esticadinha. O banco tem um estofamentozinho, é quase confortável.
     Agora acordei e estou fazendo hora novamente.  O mundo ainda não acabou, meu celular está sem rede e eu ainda não sei qual é o meu portão de embarque.

                                                                      ***

     Pronto. Consegui. Vários pedidos de informação, várias filas, vários estresses em frente a painéis, enfim achei o gate e finalmente estou dentro do avião, após responder muitas perguntas, passar pela revista, tirar casaco, tirar sapatos, passar pelo detetor de metais, abrir a bolsa. Afinal o país para onde vou, está em guerra.
     Meu lugar, desta vez é na janela, porém, em cima da asa.  O avião é menor, menos passageiros e um pouco mais de espaço entre as cadeiras. Os passageiros estão entrando e guardando suas coisas. Eu, como sempre, não tenho nada a colocar no compartimento acima. Levo apenas uma bolsa, que vai em baixo do banco dianteiro. Próxima parada: Tel Aviv e seu temido serviço de imigração. Respiro fundo.

     Lá fora nevou, temperatura zero grau. Aqui dentro é quente e abafado. Acabou de entrar uma muçulmana de lenço na cabeça e sentou do meu lado. Ela é morena e fedorenta. Ou não toma banho, ou não lava o monte de roupa que veste, há vários dias. Ainda bem que são só duas horas de voo.
     Orra meu! Não para de entrar gente!
     A minha vizinha, além de fedorenta, tira meleca do nariz e faz bolinhas, Arg!

                                                                ***
     Enfim! O avião se movimenta. Tem neve na pista! Pessoas lá fora, todas encasacadas. E eu aqui, com calor. A tripulação fala turco e inglês. Ambos incompreensíveis.
     Ainda não voou. Já são dez e cinquenta. Uma hora e vinte minutos de atraso! Nesta pista não tem neve, mas tem um avião na frente. O avião da frente acelera e voa. Agora é a nossa vez!  Olho para a outra pista. Já tem dois aviões na fila para decolar. Estamos parados... pronto. Aceleramos! Voamos! Finalmente! A porra da asa atrapalha, mas dá pra ver Istambul, com os telhados brancos de neve. Pronto. Entramos numa nuvem. Não dá pra ver mais nada.  
     Cochilo. Olho pela janela: as nuvens parecem sólidas. Será que a neve, antes de ser neve é nuvem? Em cima, céu azul e sol. Em baixo, nuvens brancas e sólidas.
      Lanchinho. Estico um braço enorme na frente da minha vizinha. Pego a  bandejinha direto com a aeromoça. Não quero que ela encoste a mão na minha bandejinha.
     A caneta cai debaixo do banco. É tudo tão apertado, que é preciso ser contorcionista para conseguir pegar. Vou ver um filme, depois do resgate da caneta. Se conseguir apertar os botões certos, é claro.
     Já estamos descendo em Tel Aviv. O mundo não acabou e daqui é lindo. Vejo o mar Mediterrâneo, verde como o mar de Angra dos Reis. Verde esmeralda. Lindo.
     Céu azul com nuvens brancas e sólidas e mar de esmeralda. Tel Aviv, estou chegando!

                                                         ***
PS: Havia uma previsão, creio que no calendário do povo maia, que dizia que o mundo iria acabar no dia 21 de dezembro de 2012. 

     Agora voce já pode dizer: Eu li na tela da
                                                                     Eulina









 

  

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