terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Nazare - Jinin

                                              


                                                                  NAZARÉ - JININ

                                                                                                                                23/12/12

     Começamos a conhecer  Nazaré. Um guia local nos levou à Igreja Ortodoxa da Anunciação, onde há uma pintura linda da anunciação: o anjo Gabriel  e Maria, com o ventre iluminado pela imagem do Menino Jesus. Depois, fomos à Basílica Católica de Maria. Enorme, com quadros representando a virgem, vindos de todo o mundo. Lá está Nossa Senhora Aparecida.

     Em seguida, fomos até Cafarnaum,  o local onde foi a casa de São Pedro, o local onde Cristo começou a pregar, o local onde foi o sermão da montanha, o rio Jordão... Em todos os locais, (exceto o sermão da montanha), há templos enormes, com histórias igualmente enormes, sobre ocupações pelos romanos, pelos turcos, sobre as cruzadas, várias ruínas com vários estilos arquitetônicos... e vários grupos de turistas do mundo todo.

. Fica difícil a gente se concentrar e imaginar as cenas bíblicas no meio de todo esse tumulto e com o guia contando histórias em ritmo acelerado, porque há sempre outro grupo, com outro guia atrás, esperando para chegar em frente ao local sagrado e desandar a contar a sua história.
     É tanta gente, tanta coisa pra se ver, tanta história pra se ouvir, que não dá tempo de sentir frustração por não poder rezar em paz. Não chegou a ser uma decepção, mas... não foi a emoção que eu esperava. Não sei explicar o que senti. Mas pressenti que iria ser assim em todos os locais sagrados.

     Afinal, estou aqui. Não era isso o que queria? Não me emocionei, não chorei, não exultei... não sei o que dizer. Com certeza, estou em paz. Engraçado, parece que sinto alívio. Quase como  beber água quando se tem sede.  E por falar em água, fomos a uma fonte, que fica ao lado de um buraco de mina, cuja história o guia se esforçou para contar e eu me esforcei para ouvir, em vão.

                                                             ***

    Depois, o check point. Passaporte na mão, fotos proibidas, todos com medo, olhos arregalados, italianos em silêncio.  Cercas, portões giratórios, fomos passando um por um, em fila indiana, carregando nossas bagagens. Olhamos para dentro dos guichês, nos escritórios. Nada.... ninguém... ,  nenhuma pergunta,,  nenhum carimbo...que coisa!  Meno male, como dizem os italianos.

     Chegamos do outro lado. Estamos na Palestina! West Bank, como chamam os palestinos, que quer dizer margem oeste do rio Jordão.

    O nosso sorridente guia palestino está a espera e trouxe uma van e um taxi. Acomodamos a bagagem nos carros e fomos para Jinin.  A paisagem muda. No lugar dos campos cultivados dos israelenses, vemos o deserto e as montanhas. No lugar da estrada asfaltada e dos micro ônibus, uma estrada de terra esburacada, as vans e os taxis velhos. Nem parece que estamos na mesma região. E, a maior diferença: no lugar da cara séria e profissional do guia israelense, encontramos o enorme sorriso do nosso guia palestino. Chama-se Nidal e vamos atravessar o deserto com ele.

                                                           ***

     Jinin, a cidade onde estamos agora, se parece com uma novela da Gloria Peres. Tudo acontece na rua principal. Lojas, camelôs, gente, muita gente,  muitas crianças, carros, sons cheiros cores, gatos (muitos), cães (poucos), uma enorme confusão.  Homens com o pano estilo Arafat na cabeça e mulheres de roupas compridas e cabeça coberta. Pobre, bem pobre. Andamos pelas ruas por entre os carros e as mercadorias dos camelôs, cuidando para não sermos atropelados no meio daquela balburdia.

 Almoçamos num restaurante incrível, onde tínhamos uma sala reservada no alto de várias escadas, cada uma de uma largura e cada uma saindo de um lugar diferente. A nossa sala é toda fechada, sem janelas, com pinturas de paisagens nas paredes verdes e vermelhas. Nidal almoça conosco.  Realmente, um assombro! E o maior assombro é que a comida é excelente! Comi muito!
    Depois do lauto almoço, andamos mais por entre ruas e vielas, estilo Paraisópolis em Sampa e Morro do Alemão, no Rio.

     Caminhamos até um teatro: o Freedom Theater. Esse teatro funciona como um centro de resistência à ocupação israelita. O diretor nos mostrou um filme contando a história do teatro e mostrando como lutam pela preservação da cultura palestina, no meio das bombas que destroem partes da cidade, que são  reconstruídas em seguida. Há, numa das paredes, a foto do Guevara e há nos olhos dos palestinos um brilho que é encontrado nos olhos dos povos oprimidos que sonham com liberdade e justiça. Conversamos um pouco com os atores. Eu comprei uma camiseta.

     O povo parece feliz, apesar de tudo. As crianças nos acompanham, pedem para tirar fotos, riem muito. Fomos até uma praça, onde uma ambulância foi explodida por uma bomba e os artistas da cidade construíram um cavalo com as peças danificadas da ambulância. Eles consideram o cavalo como o símbolo da liberdade. A feiura do local e do monumento, contrasta com a beleza e a alegria das crianças.

    Como tivemos de passar por um check point, eu segui as recomendações de amigos no Brasil e vesti a camisa verde e amarela estilo seleção brasileira. Não havia ninguém no check point, mas na praça, as crianças olhavam para mim e falavam Cacá! Ronaldo! e eu respondia Romário! Cafu! Foi joia!

     Depois de andarmos bastante, por entre ruas e vielas igualmente sujas e tumultuadas, porém interessantíssimas, entramos nos carros novamente e começamos a subir ladeiras. Realmente, o planejamento urbano é zero. Ladeiras estreitíssimas e se vem um carro no sentido contrário, temos que achar um lugar mais largo parar por um momento, para deixar o outro carro passar. Vielas escuras, casas amontoadas, as favelas do Brasil são iguais.

     Eu, como não gosto de saber o roteiro, faço o que me pedem e tudo é uma surpresa. Sentada no carro, eu espero pra ver aonde estou indo. Chegamos numa rua, onde há um muro enorme, toma o quarteirão inteiro. Contornamos o muro e entramos num portão. Subimos por um caminho asfaltado e chegamos numa construção imensa, luxuosa, é o hotel! Que surpresa! Depois daquele trajeto tortuoso tão escuro, tão pobre, este hotel. Grande, imponente, espaçoso... um luxo! Como será que se sentem os palestinos que trabalham aqui e moram naquelas casas, naquelas ruas?

     Meu quarto, que divido com Andrea é grande e bonito. Tem duas camas enormes, banheiro com água quente, sabonetinhos e shampuzinhos. A janela grande e envidraçada mostra a cidade abaixo e os arredores do hotel. Dentro dos muros, tem até um parque de diversões com uma roda gigante! 

     O jantar foi servido numa mesa grande, lindamente arrumada e com flores no centro. Ficamos todos admirados. Tanto luxo e riqueza, no meio de tanta pobreza. Nidal não entrou no hotel. Será que algum palestino se hospeda aqui?
                                                                   Você já pode dizer eu li na tela da
                                                                                                                         Eulina
   

                                                                     

Um comentário:

  1. "...há nos olhos dos palestinos um brilho que é encontrado nos olhos dos povos oprimidos que sonham com liberdade e justiça." Interessante e linda esta afirmação, acho este seu jeito de observadora, o máximo! "Como será que se sentem os palestinos que trabalham aqui e moram naquelas casas, naquelas ruas?"
    Devem se sentir tal qual alguém que mora em Paraisópolis e trabalha num casarão no MOrumbi, ou em Ipanema, morando no Alemão. Talvez não, quem sabe?!

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