segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Al Auja - Jericó

       



                                                                     AL  AUJA -  JERICÓ

                                                                                                                         29/12/12

     Al Auja é o nome do lugar onde fica a Tenda dos Beduinos.
     Ontem, depois do jantar, veio um taxi e levou Andrea ao aeroporto.  Ficamos à luz do luar, esperando o taxi com ela. Hoje ela vai voltar para a Alemanha. Sentimos sua falta. Agora somos dez.
     Hoje a caminhada é mais curta: dezesseis km. Vamos para Jericó.

     A paisagem é a mesma. Porém as terras são um pouco mais férteis. Há plantações de laranjas. Continuamos descendo. Agora, a descida é mais suave. Hoje há um novo check point. Visto a minha camisa tipo seleção brasileira. É o meu maior trunfo para enfrentar a guerra. Sigo a recomendação de um reporter que cobriu a guerra. Ele disse que vestindo a camisa da seleção brasileira, ele deixava bem claro que não tem nada a ver com essa guerra. Por isso, nunca teve problemas com autoridades de ambos os lados. Sem Andrea para conversar, fico mais tempo em silêncio. Os italianos continuam sua algazarra.

     Chegamos ao check point. Muitas recomendações. Stress. No photos, No jokes. Everybody quiet.  Passaporte na mão. Italianos em silêncio. É uma construção no meio do nada, quadrada, enorme, dois ou três andares, com poucas e minúsculas janelas. Passamos pelas catracas em fila indiana.Outra vez, não há ninguém. O que será que aconteceu com os check point?  Estão sempre vazios... Gianfranco, para desespero de Nidal, pergunta a cada cinco minutos:
    - May I take a photo now? 
    - Não! - responde Nidal - Eles devem estar escondidos em algum lugar, de onde nos observam. No photos, keep walking! 
    E nós caminhamos tranquilamente, sem incidentes, até a entrada de Jericó, onde havia um micro ônibus a nossa espera. Se os "israelis" nos observavam, perderam seu tempo, pois  viram apenas pessoas pacíficas.
    Andamos de ônibus por Jericó, até uma estação de teleférico. Local turístico, lojinhas com badulaques para vender. Depois de tanto tempo no meio do deserto e de pequenos povoados, estranhamos a cidade grande, o asfalto, os turistas... pelo menos, eu estranhei. Acho que os italianos também. Não houve oportunidade para perguntar e comentar, porque logo entramos na fila do teleférico e chega a nossa vez. Lotamos dois bondinhos. Eu fico admirando a cidade de Jericó, rodeada de montanhas. 

Mais uma vez, não sei aonde vou. Eu acho um barato! Adrenalina pura, estar a caminho de um lugar, que eu não conheço, para ver alguma coisa que eu não sei o que é! Curto cada instante da viagem de bondinho.

     Chegamos. Nidal explica que estamos no local, onde Cristo foi tentado por Lúcifer. Eu me lembro das  aulas de catecismo. Cristo ficou no deserto meditando por quarenta dias, se preparando para a vida de pregações que iria enfrentar. Ao final dos quarenta dias, Lúcifer o tentou, dizendo que olhasse e cobiçasse todas as riquezas  da cidade ao pé do morro. Cristo resistiu. Depois dessa breve explicação em inglês, traduzida para o italiano por Silverio, começamos a subir uma enorme escadaria. Na metade, estamos todos bufando. Nidal, com seu senso de humor muçulmano, diz:
   - Cristo subiu, e naquele tempo não tinha escada...
   - Mas Cristo era Deus e eu não sou, - respondo. Nidal fica em silêncio.
   - E, além disso, ele tinha 30 anos e eu tenho 69!
   - Ah, desta vez, voce tem razão...  Já estamos quase chegando.

     No alto, uma igreja cristã ortodoxa. Como em todos os lugares sagrados que vi, sempre há uma igreja em volta. E dentro da igreja mais escadas. Essa igreja fica encostada na pedreira e vai subindo, então a parede do fundo é sempre de pedra. Passamos por uma capela, com altar ao fundo, atravessamos, subimos mais escadas, passamos por outra capela, outro altar, mais escadas, uma sacada, uma salinha que parece um museu, cheia de imagens e fotos, com um padre barbudo e mal humorado vendendo velas e no fundo dessa salinha, uma escadinha. Vou direto para a escadinha subo e chego a uma salinha menor, sendo que do lado direito na parede de pedra, há um lugar especial que, segundo as explicações, foi onde Jesus estava quando foi tentado. Os visitantes, creio que quase todos cristãos, passam a mão na pedra. Eu, obviamente, passo a mão também, pensando que talvez eu estivesse colocando a mão no mesmo lugar que Cristo colocou...  Senhor, livrai-me das tentações.

      Desço a escadinha, acendo uma vela e me dirijo à capela maior, onde agora há um grupo de cristãos negros com longas vestes de um branco encardido, rezando, com um padre na frente do altar, celebrando uma cerimônia. Os negros cantam e alguém filma. Fico ali observando. Não sei que língua falam.
     De repente, o padre barbudo e mau humorado interrompe a cerimônia aos gritos, falando outra língua  difícil. Eu não entendo nada, quero ficar olhando para ver o que vai acontecer, mas Nidal me chama. Eu pergunto que esta acontecendo e ele diz que o padre não quer aquela cerimônia. Grande coisa, isso eu tinha visto, eu quero é saber o motivo. Nidal diz que também não sabe e que não devemos ficar ali, porque os outros estão nos esperando. Desço as escadas relutando... mais uma coisa que eu nunca vou saber.

     Em baixo de todas as escadas, fica um restaurante. Almoçamos numa mesa grande, de frente para um terraço com a vista da cidade. Além da comida árabe, sempre deliciosa, há pratos internacionais. É um grande ponto turístico.

     Descemos de  teleférico e depois tomamos o ônibus até o hotel.
     Oh! O hotel! Trata-se de um resort, com direito a piscinas, saunas, parques, jardins, entrada com escadaria e criados uniformizados que carregam a mala, andam quase marchando, peguntam se não queremos mais nada, e... acho que no nosso caso, desistem de pedir gorjeta, tendo em vista as nossas roupas empoeiradas, as botas imundas e os cabelos desgrenhados...

     Fico sozinha num grande quarto, com uma cama de casal, banheiro também grande e uma varanda com vista para os jardins e as piscinas, num primeiro plano e a cidade de Jericó mais ao longe. Toalhas e lençois alvíssimos, sabonetinho e shampuzinho e creminho. Realmente, este hotel deve ter muitas estrelas.

     Tomo banho, lavo minhas roupas, ponho tudo para secar nas cadeiras da varanda, visto o biquini  por baixo da roupa limpa e vou me encontrar com os italianos para irmos ao Mar Morto.

      Voce já pode dizer: Eu li na tela da
                                                               Eulina

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