sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Fara'a - Nablus

                                                                                

 


                                                          FARA'A - NABLUS


                                                                                                                                   26/12/2012

     Acordamos cedo, arrumamos nossas coisas e fomos para a cozinha dispostos a ajudar a mãe a preparar o café. Em vão. Já está tudo pronto. Não há nada que podemos fazer. Ficamos observando a família pela manhã.

     As crianças devem ter dormido na casa dos avós, tios, tias, que ficam  nos andares de baixo, pois vão entrando pela porta da frente. A menina mais velha chegou sem véu. Entrou no quarto, pegou um véu e ficou um tempão em frente a um espelho no corredor, colocando o véu, ajeitando de várias maneiras...  Não gostou do resultado e foi pegar outro, experimentou vários arranjos, e assim foi, até se decidir por um terceiro véu. Como não havia porta, ficamos observando sua faceirice. Meninas adolescentes são igualmente vaidosas em todo o mundo... Um barato! 

 Os outros tinham mochilas. Eu os vi abrindo as mochilas e guardando o material escolar. Todos apressados, prontos para ir para a escola. Só o menor, de dois anos é que não vai. Fica em casa brincando. Quando se foram, a mãe trouxe, de um canto, uma mesa redonda e de pernas bem baixinhas. Colocou no meio da sala dos tapetes, com uma toalha por cima e começou a trazer as comidas para o café. Nós nos sentamos no chão em volta da mesa e o pai com o filho menor  também. A mãe ficou servindo. Nós a chamamos para sentar conosco, mas ela disse que já tinha comido, que estava sem fome, que ia fazer alguma coisa... tudo desculpa. Ela fica em pé do lado, participa da conversa, mas não se senta conosco.

     Despedimo-nos, fomos ao encontro dos companheiros e recomeçamos a caminhar. Durante o tempo em que caminhamos na cidade, vou observando as ruas e, quando paramos para Nidal comprar o lanche do caminho, observo a mesquita que fica em frente, sob os olhares apreensivos de todos os homens que passavam por ali, no momento. Chego perto, mas não entro. Mulheres não podem entrar.
     Onde será que as mulheres rezam?

     Logo chegamos na estrada e nas montanhas. Eu sinto novamente aquela alegria, aquela leveza, aquela sensação de poder voar! Dia lindo, sol esplendoroso, vou olhando as montanhas. Neste trecho, temos algumas plantações de laranjas. Depois do lanche, temos laranjas bem doces de sobremesa.
     E assim se foram os 16 quilômetros de hoje. Subindo montanhas, atravessando  vales, cruzando com os pastores e suas ovelhas, alguns burricos, ouvindo os cânticos dos muçulmanos ecoarem nas montanhas, olhando os povoados ao longe... eu vou pensando em Maria, com seu barrigão. O que será que eles comiam? Nós comemos pão com humus todos os dias. Será que Maria e José comiam isso também? Só que o nosso humus vem em latas. Como será que eles acondicionavam a comida?

     Chegamos a Nablus. A capital e maior cidade do West Bank. E também a mais antiga. Deixamos as bagagens no hotel e nos encontramos com um novo guia. Ele nos leva à cidade velha, dentro das muralhas. E é aquela confusão. Ruas estreitíssimas, que foram cobertas por toldos e viraram um grande mercado, onde se vende de tudo. Gente, mercadorias, cores, cheiros, sons tudo misturado, tudo acontecendo ao mesmo tempo. Eu ficaria ali o dia inteiro, boquiaberta olhando, só olhando.

     Muitas ruínas, resultado das bombas dos "israelis". O nosso guia local, um rapaz novo, estudante de sociologia nos mostrou várias cicatrizes de ferimentos em atentados e tem uma bala na coxa. Ele conta histórias muito tristes sobre a ocupação das terras e destruição da cultura palestina. Realmente, é uma overdose de histórias tristes. Fico pensando que deve ser muito pior enfrentar essa overdose, porém de atos de guerra. Observo o guia. Ele é magrinho jovem e sorridente, mas parece revoltado. Pergunto a ele o que espera do futuro. Ele não responde, mas seus olhos se enchem de lágrimas. Eu  imediatamente me arrependo de ter perguntado. Que pergunta mais imprópria!

     Esta cidade tem um shopping center!  Igual a todos os outros no mundo. A diferença são as letras, nas fachadas das lojas.

     Depois, saímos do perímetro das muralhas e o guia nos levou a uma doceria, que tem doces típicos da Palestina.  Balcões de vidro, com muitos, muitos doces.  Todos se deliciaram. Desta vez, eu senti pena de ser diabética. Só comi um docinho. Ainda bem que não gosto mesmo muito de doces. Aproveitei para observar os palestinos que não são muito pobres. São, na maioria bonitos. As mulheres sempre de roupa comprida e o véu. Os homens, vestem roupas ocidentais escuras e cobrem a cabeça. Falam muito, riem, são bem humorados. Eu gostaria de entender o que dizem. É um povo bonito. Olhos escuros, em tons variados de verde e azul. Sempre nos olham com muita curiosidade.

     Aliás, devemos parecer ETs mesmo. Com roupas de trilha, calças e casacos cheias de bolsos, botas, mochilas, câmeras fotográficas, tudo tão diferente das roupas deles... Mas somos tão curiosos quanto eles.

     Voce já pode dizer: Eu li na tela da
                                                                          Eulina
   

2 comentários:

  1. Sigo adorando o que vc. escreve, faz-me lemabrar qaundo lá estive em 1991.
    Bj. Monika

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  2. Que cultura diferente, viajo junto com as palavras! Continue assim Dra! Saudades! Bjus

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