quinta-feira, 13 de outubro de 2022


                                                                       CAPETOWN


Bonita. Bem bonita. Parece o Rio de Janeiro. Mar, cidade, floresta e montanhas. Mas faltam o Cristo e o Pão de Açúcar. Limpa, organizada, trânsito que flui, muito policiada. Nisto, é bem diferente do Rio. Arquitetura antiga, de origem britânica ou holandesa. Arquitetura moderna engolindo a antiga. Mão do lado esquerdo. Tem poucas faixas de pedestres. Para mim, atravessar a rua em cruzamentos de várias avenidas, foi uma aventura, porque não sabia nunca de que lado vinham os carros. 

O povo que eu vi varrendo as ruas e atendendo nas lojas e restaurantes é predominantemente negro e me pareceu sério, às vezes triste. Falam dialetos variados entre eles, variantes de zulu e falam inglês oficialmente, com um sotaque tão carregado, que não dá pra entender. Depois de algumas tentativas, eu desisti de perguntar as coisas, porque sabia que não ia entender as respostas.

O povo que vi nos restaurantes e loja chiques é branco, loiro, alto, de olhos azuis desbotados e tem aquele ar de importância… se acham. Alguns jovens são bem altos, sarados, corpo malhado, tatuados, um pouco assustadores. Brucutus. As mulheres, quando envelhecem ficam muito peitudas, com os quadris mais estreitos e cara bem enrugada. Feias. As mocinhas são bonitas, altas e atléticas.

Pelo que vi, o país é rico e próspero. Capetown deve ser perigosa para turistas, pois existem muitos policiais nas ruas. Eles me alertaram para não abrir a bolsa, não mostrar o meu dinheiro e nem o meu celular. Eu obedeci. O apartheid foi oficialmente extinto mas na prática, permanece funcionando. Os negros são muito negros e os brancos muito brancos. Não há mulatos. 

Ontem, eu estava caminhando numa  direção e vieram pelo menos uns três ou quatro negros me dizer:  Don’t go that side, mam! - Eu custei a entender o que diziam, até que veio uma mocinha e disse a mesma coisa, de maneira mais clara. Aí eu entendi e voltei no ato. Não fui mais naquela direção. Andei bem depressa na direção oposta. Tive medo. Por que será que eu não podia ir pra lá? Não tive coragem de perguntar.

Sinto falta da alegria dos moçambicanos. Bem mais pobres, desorganizados, caóticos, mas com lindos sorrisos. Dentes todos muito brancos! Já os sul-africanos não tem dentes tão bonitos. Nem sorriem tanto.

Tanto na África do Sul, como em Moçambique o povo originário era em sua maioria Zulu. Aí, vieram os portugueses para Moçambique e os ingleses e holandeses para a África do Sul. O povo negro foi expulso de suas terras, escravizado e exportado para servir de mão de obra nas Américas. Tudo em nome da “civilização”! Que horror! 

Do ponto de vista da “civilização”, a África do Sul foi muito melhor sucedida. É muito mais rica e organizada, tem ares de primeiro mundo. Mas as negras daqui não se vestem com as capulanas, não carregam coisas na cabeça e nem os filhos nas costas. Os moçambicanos são mais pobres, mas ainda tem preservadas muitas características da sua cultura original. Creio que por isso são muito mais alegres e de certa forma, muito mais ricos.

Vi muitos mendigos negros revirando latas de lixo ou andando pelas ruas com um cobertor nas costas. Igual no Brasil. Só que no Brasil, a mendicância é multirracial, democrática, temos negros mulatos, índios, brancos, gente de outros países… aqui, só os negros são mendigos. Acho que não podem ficar parados, porque ficam todos andando e abordando os turistas dizendo que estão com fome, mostram cartazes nos cruzamentos. Tão triste quanto no Brasil.

Aqui, as roupas coloridas  estão nas feiras e nas lojas de turistas e em Moçambique, estão no corpo das mulheres!

Você já pode dizer eu li na tela da Eulina.

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