quarta-feira, 19 de outubro de 2022

 


                                                       MOMENTOS DAKTARI



 Hora da janta. As meninas africanas ficam em uma mesa separada. Pedem algo. A diretora diz: 

- Peçam por favor! -  elas pedem por favor. A diretora atende o pedido e fala:

- Agora digam obrigado! - elas dizem. São obedientes, mas eu olho bem para suas caras sérias e desconfiadas. Falam com os olhos. Eu acho que dizem:

- Vocês brancos, vieram aqui, destruíram nossa cultura e agora querem nos impor a cultura de vocês!

                                                                            ***

Fui ao Safari do resort Makalali. Vi uma família de rinocerontes. Pai, mãe e o filhote. O filhote se assusta com o carro, que chegou bem perto deles... e começa a chorar! O choro parece de uma criança! A mãe esfrega sua cabeça na cabeça do filhote... não dá pra dizer que fofura... porque eles podem ser tudo, menos fofos... mas foi uma bela demonstração do carinho materno.

                                                                              ***

Estamos na lua quarto crescente. No Brasil ela tem a forma de um C. Em Moçambique, tinha a forma de um D, sem o tracinho vertical. Aqui, na África do Sul, parece um U invertido. Parece que está de ponta cabeça... Muito interessante, as posições da lua.

                                                                                ***

Uma das meninas puxa conversa comigo:

Ela - Você acredita em Deus?

Eu - Sim, acredito.

Ela - Ás vezes parece que eu não existo!

Eu - Por que?

Ela - Você viu como aquela nova voluntária nos cumprimentou?

Eu - Vi.- foi um cumprimento bem comum, fruto de boa educação. Ela quase nem olhou para mim nem para as meninas.

Ela - Você gosta de conhecer novas pessoas?

Eu - Gosto. 

Ela - Ás vezes eu gosto, às vezes não gosto. - ela continua me analisando - Às vezes eu sinto que pessoas brancas discriminam... Você acha que todos são iguais?

Eu  - Acho.

Ela - Brancos e negros?

Eu - Sim! Brancos, negros, amarelos, vermelhos...

Ela - Quem são os vermelhos?

Eu - Os índios.

Ela - Ah é! Os índios.

Eu - São todos iguais, você não acha?

Ela - Acho. Mas, alguns brancos não acham.

Eu - É... muito triste, isso.

Ela - Muito triste.

A menina negra, sul africana, com 14 anos de idade, e eu tivemos essa conversa, com muita dificuldade, porque foi tudo em inglês e eu tive que pescar palavras no meu pequeno vocabulário, para dar mais fluidez a esse assunto tão difícil... mas em síntese, foi isso. Quando foi embora, a menina me deu um abraço bem apertado! Amei.

                                                                       ***

No caminho para a minha cabana, tem um burrico todo branco. Parece triste. O funcionário que estava me levando ara a cabana disse:

 - He is blind!

- Is he albino?

- He is blind!

- But, is he albino?

- He is blind!

Tá certo. Ele é cego. Não vou encompridar a conversa. Mais tarde, o Google me disse que existem muitos burricos albinos e mostrou fotos de vários. Igualzinho àquele. Tadinho. 

                                                                          ***

O carro do safari para num ponto especial, para a gente apreciar o por do sol. Eu pergunto onde é o banheiro, me dirijo a uma pequena cabana coberta de sapé (ou algo parecido sapé) e tento abrir a porta. Giro a maçaneta, aperto, movo pra cima, pra baixo e... nada. A porta não abre. Mas tenho certeza de que está vago, porque a mulher que estava lá tinha acabado de sair... Eu ouço a guia do safari dizendo: do outro lado, do outro lado! Eu procuro o outro lado da porta e não vejo nada. Até que a guia veio até a porta, morrendo de rir e empurrou a porta. Eu estava puxando.

                                                                         ***

As cores daqui são todas terrosas. Com exceção dos amarelos brilhantes e vermelhos cor de fogo das auroras e dos crepúsculos, que são portentosos, todos os bichos, aves, construções e vegetação, tem cores que variam entre beje, marrom, marrom esverdeado, cinza e negro. Vi uma manada de búfalos, todos negros. lindos, bem perto da minha cabana. Galinhas d'Angola, bem escuras. As diversas variedades de roedores... sempre variando entre o branco sujo, cinza, marrom e preto. Rinocerontes, elefantes e zebras também. Dentre os bichos, única exceção são as girafas que tem manchas em tons de amarelo. Sinto falta das cores vivas das capulanas moçambicanas.


Você já pode dizer eu li na tela da Eulina.

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