domingo, 9 de outubro de 2022

 

                                                                OS ELEFANTES


Estou num safari. Já vi várias girafas e três zebras. O carro prossegue andando devagar sacolejando muito na trilha no meio da savana, desviando dos galhos secos das árvores. Muito sol, muito calor. Estou de chapéu e óculos escuros. Pareço uma turista. Pescoço doendo de tanto tentar girar por todos os lados. Não quero perder nada. De repente, o carro para. O que será?

 Um dos guias aposta para um local e vemos as árvore se mexerem. Prestamos bem atenção e vemos dois elefantes por entre as árvores. Suas enormes orelhas balançam as trombas se enroscam e eles vão pra frente e para trás com as trombas enrascadas. Uau! Que coisa! O que estão fazendo?

O rapaz que fica sentado num banquinho em frente do carro informa:

- It’s a fight!

Todos no carro se excitam. Estamos vendo uma briga de elefantes! E não são efeitos especiais de um filme! É real! E está acontecendo na nossa frente! Pena que estão no meio das árvores… não dá pra ver todo o corpo dos elefantes… mas vemos suas grandes orelhas abrindo e fechando e quase dá pra sentir a enorme força que estão fazendo! 

Às vezes, eles se afastam. Ficam parados, um em frente ao outro, se encarando, medindo suas forças. Só as orelhas abanam. Dentro do carro, um silêncio total. Todos impressionados com a cena. Então, os elefantes correm e se chocam! Uma espetacular cabeçada! E recomeçam a luta. Trombas enroscadas… eu fico imaginado a força que fazem… A guia explica:

- São dois elefantes jovens. Um deles, o que tem a pele um pouco mais escura é o líder do grupo. E o outro quer ser o líder. As lutas entre elefantes são sempre assim. Lutas pela liderança.

Fiquei achando que ela conhecia o grupo, para saber quem é o líder e quem estava disputando a liderança. O carro ficou parado nesse lugar, por um tempo e depois partimos em busca de ver mais animais. A luta continuou. Mais adiante, vimos muitos elefantes andando pacificamente. Será esse o grupo cuja liderança está sendo disputada?

 O carro segue até um local de onde pudemos ver um magnífico por do sol.

Na volta, passamos pelo local da luta e vimos um elefante caído no meio das árvores… triste, muito triste! Era o elefante mais claro. A guia informou que aquele era o pretendente à líder. Não venceu a luta. Está morto. Eu ainda pergunto: Será que não está apenas machucado? A guia responde que a luta só acaba quando um dos elefantes morre. Todos fizeram vários Ah….Oh… em várias línguas… o carro ficou ali parado por mais um tempo, mas já estava quase escuro, então prosseguimos no caminho de volta. Muito triste.

                                                                                  ***

Na hora da janta, depois que eu contei sobre a luta e a morte do elefante, a diretora começou a falar com as pessoas sentadas perto dela, como se eu não estivesse presente!

- Ela não deve ter entendido a fala da guia!  - eu respondi:

- Entendi sim! - mas ela continuou:

- Talvez a guia tenha dito outra coisa e ele entendeu mal.

- Eu entendi muito bem e ainda perguntei, se o elefante estava mesmo morto, ela disse que sim - e continuei - talvez, ele estivesse apenas machucado, e não morto, mas ele estava lá estendido no meio das árvores. Todos os que estavam no carro ouviram a fala da guia e viram o elefante caído.

Não gostei do jeito da diretora. Ela falou de mim, na minha frente, como se eu não existisse, e mesmo depois que eu respondi diretamente para ela, ela continuou agindo como se eu não existisse! Foi um climão! Senti os olhares constrangidos de todos… creio que não pelas coisas que foram ditas, mas pela maneira como foram ditas.

Acho que falar de uma pessoa na frente dela, como se ela não estivesse ali, é uma forma de discriminação.

Você já pode dizer eu li na tela da Eulina.

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