sexta-feira, 9 de agosto de 2019









                                                          ABRAÃO


          E o Senhor disse a Abraão:
- Tu me amas?
          Abraão responde:
- Mais que tudo Senhor!
- Então traga seu único filho Isaac até a terra de Moriá, onde te indicarei o lugar onde deves sacrificá-lo em holocausto.
- Assim será, Senhor.
          E assim foi.  Abraão fez como o Senhor havia determinado. Chamou o filho, colheu lenha para o holocausto e ambos dirigiram-se à terra de Moriá.
          Chegaram após três dias de viagem. Abraão erigiu um altar com pedras, onde deitou seu filho sobre a lenha empilhada. Porém, antes que ateasse fogo dando início ao sacrifício, um Anjo do Senhor apareceu e disse:
- Abraão! Já deste prova suficiente de teu amor ao Criador. Poupa teu filho do fogo. Sacrifique uma ovelha no lugar.
          Assim, uma ovelha que pastava por perto foi imolada e oferecida em holocausto.
          A Bíblia não diz nada sobre o sofrimento de Abraão. Só menciona que ele ao responder às perguntas do filho, dizia que Deus proveria o cordeiro que devia ser imolado.
                                                                       ***
          Para mim, essa história é um dilema insuportável: matar o filho ou desobedecer a Deus? Que terríveis consequências seriam desencadeadas pela desobediência? Seriam mais terríveis do que ter sido o agente da morte do próprio filho?
          Mesmo acreditando em alguma divindade, é difícil imaginar uma prova de amor tão cruel! E mais difícil ainda, ver a obediência cega por parte de Abraão. Por mais que eu pense no assunto, não chego a uma explicação que possa ser expressa em palavras. E qualquer sentimento que eu imagine, seria tão grande e tão doloroso, que não me aventurei sequer a pensar nele, muito menos a descrevê-lo.
                                                                      
                                                                        ***
          Pensei muito nesse assunto, há alguns anos, quando estive em Baku, capital do Azerbaijão. Baku é uma cidade grande e bonita que está sendo modernizada pelos governantes, após a queda da União Soviética, ocasião em que o Azerbaijão se tornou um país independente e livre.
          Passeando pelas ruas da cidade, de tempos em tempos, eu me deparava com um curral, cheio de ovelhas. Fiquei intrigada e, ao perguntar para um amigo brasileiro que morava lá, fui informada de que as ovelhas seriam mortas no dia da festa de Abraão. Foi a primeira vez que ouvi essa história.
          E assim foi. Quando chegou o dia da festa, os chefes de família se dirigiram aos donos dos currais para escolher uma ovelha. Uma vez escolhida, a ovelha era degolada ali mesmo no meio da rua. Uma bacia colocada em baixo recolhia o sangue. Depois de retirada a pele, o comprador levava a ovelha para fazer um churrasco e comemorar com a família. As peles ficavam dependuradas num varal. As ruas próximas aos currais ficaram cobertas de sangue.
          Concluí que nem muitos anos do ateísmo soviético não conseguiram tirar do povo as crenças e costumes bíblicos.
           Crenças absurdas e costumes bárbaros.

                                                                           ***

Nenhum comentário:

Postar um comentário