quinta-feira, 8 de agosto de 2019


                                                      



                                                                 O QUARTO



          Hoje foi um dia difícil. Vou descansar, dormir na minha cama confortável, cheia de almofadas, depois de admirar as lindas flores do vaso em cima da mesinha de cabeceira.
          Não consigo. A loucura do dia me assalta. Estou sempre do lado oposto de mim mesmo. Assim que penso uma coisa, fico procurando uma contradição. Esbarro nos limites, me complico todo, porque nunca sei como agir, a qual lado dar ouvidos... Eu e o meu oposto!
          Então, minhas ideias se agitam. As coisas mudam, o quarto muda. Móveis, pensamentos, tudo fora do lugar, fora do contexto, fora da lógica, fora da lei da gravidade!
- Vou agir de acordo com o primeiro pensamento, ou com o seu contrário? Eu me deito na cama ou caminho pelo teto?
          O mundo está de ponta cabeça. Só eu estou no chão, como deve ser. Mas, as paredes me oprimem, os objetos todos me provocam, me observam atentos, desafiam a minha lógica, sobem pelas paredes, propondo novos caminhos, novas perspectivas, novos olhares... e eu os odeio por isso!
          Odeio tudo! Odeio todas as coisas certinhas que resolvem sair dos seus lugares só pra me desafiar. Odeio minhas posições, posturas opiniões! Odeio meus contrários, meus opostos! Quero me ver livre de todas as coisas, quero sair, voar, voar, mas não há portas nem janelas neste quarto!
          As coisas da casa toda vêm me assombrar, sobem pelas paredes, se grudam ao teto, em cima de mim, até a banheira cheia de água, e a água não derrama!  Tudo dentro de mim se agita. Minhas ideias estão todas giratórias, claustrofóbicas, dicotômicas...
- AAAAAAAIIIIIIIIII!!!!!!!!!! – o grito sai das minhas entranhas!
         Alivio!  Respiro fundo. As coisas voltam para o lugar. As ideias também. Eu e o meu oposto. Cada coisa no seu canto, esperando a próxima crise.

                                                                         ***

Tarefa; escrever texto sobre uma pintura de um quarto cujos móveis estão nas paredes, no teto, espalhados de maneira inverossímil.

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