sábado, 31 de agosto de 2019



                   O ESPÍRITO PEREGRINO

          A primeira vez que fiz o caminho de Santiago foi em 2001. O caminho havia se tornado conhecido recentemente, por causa do livro do Paulo Coelho. Mas ainda não era muito conhecido turisticamente. Ainda havia muito espírito peregrino.
            O espírito peregrino consiste em superar o cansaço, as dores, as bolhas, enfim todos os perrengues e dificuldades que forem encontradas durante dias de caminhadas. É uma alegoria. A vida é cheia de obatáculos e superá-los nos torna melhores. E tal como no caminho, os obstáculos devem ser superados pacientemente um a um, na medida em que surgem. Isso nos faz pessoas melhores e o caminho nos ensina a sermos pessoas melhores. Conhecer outros  peregrinos é a melhor parte. É quando podemos exercitar nossa solidariedade, nossa capacidade de amar ao próximo como a nós mesmos, como Cristo ensinou.
              Lembro-me de passar pôs pequenas cidades e o povo local vir nos oferecer comida, água, sombra para descansar... Os albergues não cobravam nada pelo pouso, havia em alguns, a seguinte placa, em cima de uma cesta destinada a donativos:  Contribua com o que quiseres ou retire o que necessitares. E havia não só dinheiro, mas muitos pertences deixados pelos peregrinos, como xampus, sabonetes, casacos, remédios, roupas em geral, até botas! E funcionava assim. Fazia parte do espírito peregrino.
               Mas o tempo passou e as coisas mudaram. Durante esses anos eu tenho ouvido histórias sobre o caminho, sobre a mudança de pesos para euros, sobre a crise da economia espanhola, etc. Uma das maneiras de que a Espanhan se serviu para vencer a crise econômica, creio que foi o incremento do turismo. Com isso, o caminho ganhou em conforto, as trilhas se tornaram mais bem sinalizadas, o governo se preocupou com a manutenção das trilhas... e os albergues deixaram de ser gratuitos. Quando acabar o meu período de hospitaleira, vou caminhar novamente até Santiago e ver as mudanças nos albergues.
                Mas este em que estou trabalhando, continua como antigamente. É um albergue pertencente à paróquia de Santiago El Real. Um dos mais antigos. A igreja foi construída para ser um abrigo e refúgio de peregrinos, durante a Idade Média. A cidade de Logroño nasceu e cresceu em virtude de estar localizada num cruzamento de várias estradas dentre as quais a principal era o caminho dos peregrinos de Santiago. Continua sendo gratuito, continua sendo acolhedor, oferece cama, comida, e benção aos peregrinos. Para isso trabalham os hospitaleiros. Limpamos tudo, lavamos a roupa de cama e fazemos comida. Trabalhamos muito. E tivemos uma reunião com o pároco que nos falou sobre a importància da acolhida. Estou contente de estar aqui.
                  Hoje é meu primeiro dia. Ganhei a chave da porta. Me senti importante, com ela pendurada no pescoço. Descobri que pela manhã, depois que os peregrinos saem, e depois da faxina, a internet funciona. É a melhor hora para escrever.   Mas, ainda tenho muito assunto atrasado. Vou
escrever sempre que puder e a internet permitir.

                  Você já pode dizer eu li na tela da
                                                                      Eulina

2 comentários:

  1. Muito interessantes as suas.observações sobre os efeitos da economia nas hospedarias.

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  2. Oi! Eulina, interessante suas observações. Estou passando para minha filha Luciana que também já fez o caminho de Santiago, no passado. Abs

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